20.2.05

nino largou a vida no interior
vendeu fazenda, meia dúzia de bois
veio parar na capital
comprou lote e se instalou
numa casinha simples, luxo nenhum,
começou a criar aves
seu fascínio por elas era tão grande que uma vez envolveu o alpendre com tela e fez da frente da casa um viveiro enorme. por uma porta, a do corredor lateral, entrávamos no quarto-sala, e, por outra, a principal, entrávamos
num cômodo mágico: pássaros, passarinhos, todos os tipos, até aves raras – protegidas pelo governo –, nino criava.
a casa foi ficando sem espaço. nas prateleiras, ao invés de livros, gaiolas. o faisão tinha vida de rei, dormia entre o telhado e a laje. no pequeno quintal, tipos atrapalhados, gansos, marrecos etc.

hoje, pela manhã, deve ter havido uma cantoria danada,
mas nino não estava mais lá para ouvir.

a vida guarda seus mistérios.

para vô nino
(1917-2005)









metrô

passagens
nada mais
é o que espera aquele som
andar em semicírculos
um ruído meio-leve-meio-agressivo
assim,
bem no meu ouvido

8.2.05

Nevoo* - para eassis

dentro de mim há um escuro...
faltam textos que queria rever.
onde está você?
pretendia discar, mas as mãos estavam ocupadas com o teclado nas últimas semanas...
onde está você?
voltei para 1999...
deserto, clarão, ventania...
fui ver o que estava fazendo.
já não tenho certeza se estou aqui ou lá.

neste lugar (negro) continuo tendo idéias para me safar da tempestade.

*comments in: www.nevoo.blogspot.com
fixo nas crateras do seu rosto.
vejo: instantes de silêncio.

nesse lugar,
isolo-me.

aqui não existe tempo,
nem memória.

procuro eu,
procuro você.

adormeço.