23.10.06

o vento beija a água*

se tocar o alto da montanha sentirá o tempo

/[T]ir-ran/[!] ir/[T]ir-ran/[!]/[T]ir-ran/
ir ir ir

possível dizer ao vento
abrande o meu peito
ir ir ir

traga para meu corpo a agilidade dos pássaros a cortar o céu,
a força da tempestade
ir ir ir

sou urso, sou ar, sou pedra
homem pronto para beijar a água
ir ir ir

/ir-rrá[n]/[!]/ir-rrá[n]/[!]/ir-rrá[n]/

/OU/


*transcriação de música ensinada aos inuit pelo vento.
(para pierrou)

18.10.06

Antes dos 40

Não se tem como saber se o cara vai dar um artista,
salvo erro se ele for um gênio
e acabar por morrer cedo
de acidente, doença ou suicídio.
Lembrando que muitos morrem prematuramente,
não vingam,
expelidos pelo corpo da mãe
por algum motivo maior do que eles.
Maior ainda será o imenso silêncio.
Talvez aqui,
nesse lugar original,
esteja o cara.
Livre da sua jornada,
ausente de corpo, apelos, certezas,
e memória
- o intervalo que buscamos, ou a agônica saudade de uma feliz existência.

Aos sobreviventes,
resta não saber,
ou achar que se sabe,
vivendo.

A arte é um porrrrrrrrre...
(um bêbado virando a esquina, amparado pelas duas pernas,
em total descompasso).
Existência é mero detalhe, meus chuchus.

12.10.06

Alma raiada

Há um sentimento mentiroso dentro da gente,
não arde.
Ficamos a tomar leite da caixa.
Estourar bolhas sobre a língua.
Sentir o ar entrar e sair,
o dente falhar.

Ouço da janela do quarto:
40º graus.
O cobertor está quentinho,
obrigada.

Animais atravessam ruas
entre carros e bicicletas.

(se der ouvidos aos amigos,
ficará como estátua)

Há quem delire com um pouco de febre.
- Saudade das vacas.