30.4.08

Tarde desperdiçada

Não quero lhe chatear
Uma prece aos ignorantes
Esta dor é temporária
O estômago está vazio, eu sei
Deixe a melancolia instalar de vez
Três livros para ler
Perdida em Tchaikovsky
Escrevo um poema
Você vai me reprimir porque tenho uma casa a varrer?

28.4.08

Seus olhos, ou da polifonia nesta manhã desconsolada*

Talvez fosse melhor não mencionar nada
Que o tempo se encarregue de dizer,
na experiência dos dias,
o apelo deste corpo

Um copo d’água, por favor
Não adianta negar
O espírito transita no tilintar das lágrimas
Alegria, gozo e dor

Nesta manhã de sábado,
a cabeça ainda zumbindo,
vejo sua asa partir no chão
Três movimentos ao redor do corpo

No sonho ainda se podia ouvir
instrumentos, vozes,
passantes a bater o pé no cimento
Corte seco

Um dia inteiro pela frente
Arrumar a casa
Postar o lixo, roupa no varal
Misturar arroz no feijão

Barulho que vem do asfalto
anuncia a partida e chegada dos carros
Crianças brincando no jardim
Esquartejam gafanhotos no meu cérebro

Cumprida a ordem
À tarde estarei na cama
Um romance que não acaba
Livros de poesia

No cair do dia,
talvez uma festa,
um jantar entre amigos
ou o sono dos justos

Escrever é menos complicado sob efeito do álcool
A palavra corta a folha
Navalha afiada
Os dedos sangrando

Nem clichê, nem rima
Sem lentes de aumento
Não há foco que resista
Espera a ressaca passar


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*depois do Graveola, também para o Rafa

2.4.08