29.6.10

O silêncio em Beckett

Sentirei a intensidade do vento à sua porta
Aguardarei o sol
Esperarei por toda a eternidade
Movida pelas paixões
A minha força segue em direção ao infinito
                                                                                                                      
Adentrarei nele
Inteiramente
Sentirei as primeiras horas da manhã
Torcerei o pulso, tocarei com os dedos a face
                               Beckett me acompanha

Meu impulso é sair pelo mundo
À procura do seu corpo
Em mim habita um sentimento fecundo
Mergulhado na noite
Encontrando o vazio
A lua desaparecendo atrás da montanha
O dia trazendo mais uma vez a luz que incidirá sobre os lençóis 

Tive uma revelação quando pequena
Repeti insistentemente o meu nome
Gritei abafado
Até que se tornasse apenas o eco de um nome
                                                                              Aura
Descobri que o primeiro não me pertencia
O pavor tomou conta de mim
E vi perder no tempo a inocência 

Passei a prever o futuro
Suspeitei da realidade
Sei o que é quente
o que é frio
o que corta

No mais, vejo e sinto tudo como num sonho
Tenho medo de acordar e deixar de acreditar na vida
Já sabe e tem a minha alma
O quarto preparado para os dois 


para os amantes

28.6.10

Words and Music

By passion we are to understand a movement of the mind
pursuing
or fleeing
real or imagined pleasure or pain


S. Beckett


27.6.10

a propósito de três

um vai pra irlanda
o outro se tornando alcoólatra crônico
(criando uma barriga igualmente crônica que não errará mais pela cidade)
o que será desta aqui com o trio repartido?
abandonarei a pretensão de teórica, pelo menos por um tempo
mas não a de poeta

vou ver um jardim

24.6.10

Tenho lido Álvaro de Campos
Tudo muito terno e triste
Se tudo continuar assim
Eu me interno no exílio de vez

23.6.10


três coisas me maltratam
o tédio
a inapetência
e a burrice

20.6.10

parênteses

O que me atormenta é o fato de algo tão simples não vir à tona
Passo os dias em frente a um texto que não acredito
Uma forma de dizer que não domino
O tédio invade meu ser
Tenho fadiga
Meu peito está ferido
O projeto de uma tese é a pior coisa que se pode desejar para um poeta
Mesmo assim não vou pular do quarto andar

11.6.10

Ele respira devagar
Beija como se fosse o ar
Não revela os sentimentos

Ela tem uma dor
A imagem de um corpo jovem
Arrastado e jogado no vazio

Não permite que ele adentre
Ou descubra
O segredo de sua alma

Deseja simplesmente as manhãs ensolaradas
E o perfume dos corpos nus

Mantém-se calma e bela
Quem sabe a claridade possa entrar por uma pequena fresta


7.6.10

Nunca quis um poema altamente biográfico
Mas às vezes a escrita trai, como o pensamento
A imagem da nossa história é a de um almoço na relva
Solene, amigo

Meu querido, perdoa este corpo que cai doente
Preciso ganhar o mundo
Antes que este mundo me devore

Os poemas procuram agora o sabor da carne nos dentes
Seu nome resguardo
E guardo para sempre