29.6.11

Flúmen  
                                        para a nica 


Quis dormir por três dias
Para experimentar a solidão extrema
Na estranheza do sonho
Porque somente dormindo não nos sabemos sozinhos

Quis dormir por três dias
Para cessar toda a dor
E a tristeza ter um fim
Porque os homens andam tristes

Quis que o mundo dormisse comigo
Por apenas três dias
Quão assustador é o quarto
E não mais temer dormir e não acordar


19.6.11

Belos sonhos 

(...)

a insônia assombra o quarto e preciso me distrair das angústias de uma gripe mal curada. enquanto o sono não vem, penso no trabalho que preciso empreender. debruçar-me sobre um material vasto com um tema que exige cuidado: a guerra. é precioso ter cuidado sobretudo ao manipular correspondências de guerra que revelam a intimidade de um jovem casal. as marcas de um amor juvenil se misturam às marcas deixadas pela experiência limite, mediada pela leitura e escrita constantes. falo das cartas de guerra de António Lobo Antunes.
(...)
passadas as horas. diante de um livro sobre literatura e guerra, um artigo sobre Guillaume Apollinaire me fez lembrar o quanto a sua morte prematura chocou seus amigos. o poeta, que voltou da guerra com um ferimento na têmpora, morre poucos anos depois, aos 38 anos, em Paris, na noite do armistício, de uma doença. Gertrude Stein: estava calor, as janelas abertas. Apollinaire! Apollinaire! Apollinaire!  os caligramas.
a escrita no branco.

Dos seus poemas de guerra, um trecho:
 

Madeleine tudo o que não é do amor está perdido
Suas fotos em meu coração
E as moscas metálicas pequenos astros de início


Apollinaire! Apollinaire! Apollinaire!