24.4.05

Retrato

a cadeira é de madeira
encontrada entre objetos diversos – espalhados no porão de um antigo escritório de contabilidade
nela, ele fica horas (entre a leitura e a escrita)
às vezes percebe uma águia passar pela janela do seu quarto
vai ao terraço conferir os passarinhos
alimentar nico

volta para o trabalho
mesa espaçosa, dicionários
na porta de correr se esconde um armário
entre roupas, sapatos e meias
prateleiras de livros

moça com brinco de pérolas,
como é mesmo o nome daquele pintor?
agora, ao som de jazz, conversamos noite adentro
os amigos de sempre
não há nada que possa afetar nosso imaginário
povoado de divagações, vinho e macarrão
é isso que tenho pra dizer sobre o querido eassis
no orelhão, um descarado cantou:


– se ao menos você
me deixasse provar que aquilo foi um engano
meu amor
transformaria nossa história num samba...
e não te perderia jamais

17.4.05

* para matias monteiro

o garoto de havaianas está sentado na cama lendo jornal
bombardeio ali, assassinatos acolá
na parede, gravuras coloridas contam a história da arte
na mesa, fotos de Houdini

o sonho de ser mágico
no criado: caderneta de notas, lápis, borracha
(objetos cruéis)
levanta a cabeça
sente o sol cegar seus olhos
lembra-se de que é dia
hora de dormir

9.4.05

colocar fronha novinha no travesseiro
deitar na hora que o sono vem

invadindo
*receita para viver bem

4.4.05

restos de texto
escrita despreocupada
rascunho



dediquei para você a próxima história
estava a dizer
frases capciosas
num ritmo acelerado
poesia?



por excesso de páginas
por ausência de roteiro
por ser a mesma rapariga
acabei de saber:

não deu


tentei
livrar-me da imagem do pai arrombando a porta
do cheiro de sangue quente
do seu corpo dentro de um saco cinza



morreu
de um tiro na boca
vazado

mas seu sorriso continua o mesmoquerida A. R.



ah! a loja da metrópole fechou
quebrei meu cartão C&A
continuo odiando saltos
passou natal, páscoa
o papa finou-se

não sei entender este sentimento
você ficando distante

3.4.05

sambinha - para os amigos etnográficos

a minha lente quebrôoooooou
não vejo mais o meu amor
a minha lente quebrou, a minha lente quebrou


ô meu amor