26.6.05

300 toques

deixei a mão correr levemente pelo seu rosto. senti sua respiração falhada, a boca seca. no canto esquerdo, abajur, despertador, o copo d’água. contávamos histórias um para o outro até que o cansaço nos vencesse. pés gelados. melhor vestir meias, conferir as janelas. acreditei que tudo não era sonho.

24.6.05

folhas caem no jardim de Mariá
o vento no basculante
arrepio
a torneira do lavatório
pinga
pinga
insistentemente
mariá brincando com objetos imaginários

dedos ávidos por uma história
o frio parece congelar idéias...
2:56
melhor enfiar a cabeça no cobertor
dormir por umas horas
amanhã ainda é sábado

20.6.05

no canto direito, links.
meu editor de blog trabalha, trabalha.
como um relógio.
para essa escritora incompetente.

18.6.05

o matraca anuncia o beiju
olho a prateleira lotada de tarefas acadêmicas
vontade de ficar de pé, debruçada na janela
espiar Marquinho
que grita lá fora
“uma lavadinha aí?!”


som de furadeira no vizinho ao lado
a persiana bate com o vento
cinco gatos quentando sol

bolinhas de pimenta do reino (preta)
espantam as traças

a Internet é gradualmente lenta

meus olhos caem
colchão de molas

16.6.05

recortes

quando você passa
passa também:
a moça na calçada, o homem lendo jornal,
gargalhadas na esquina, uma casa por fazer,
o relógio da igreja, pedaços de paisagem.

enquanto você mexe o cabelo:
meus olhos delirantes.

13.6.05

dizem que todo mundo tem duas personalidades.
como os geminianos são dois: quer dizer que temos quatro?

11.6.05

aula de geometria.

círculos (concêntricos?)
vi na antiga 3ª série
depois, mais aprofundadamente...
na 7ª.
quando queria,
era boa em matemática.
mesmo sem querer, tirava 10 em educação moral e cívica.
sempre troquei palavras em português,
mas era craque na interpretação.
não cumpri com o que registrei no caderno de perguntas de uma coleguinha da 6ª.
"o que você quer ser quando crescer?"
desenhista!
um colega leu, olhou pra minha cara e disse: "rárá! desenhar é muito difícil".
me lembro que ele copiava (à mão livre)...
super-heróis da marvel.
nunca consegui copiar um super-herói.
depois fui fazer curso. aquela coisa de oito cabeças...
pensar oito cabeças e fazer o corpo humano, sabe?
muito cerebral. talvez por isso, meus bonecos continuam rígidos.
mulheres estáticas.
já na faculdade, um amigo me disse que eu era preconceituosa, porque não desenhava gordos. mal sabia ele que já havia tentado, tentado etc. não só gordos, também velhos, crianças, bichos...
não me descobri Poty.

me formei em letras.

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... daqui a dois dias, 31 anos.

nasci num 13 de junho
mesmo dia de Fernando Pessoa
e meu pai disse isso.


7.6.05

plock, plock, plock... no meu cérebro.
manifestações de euforia indicam a hora de começar a escrever.
(contrastes)


zunzunzum...
ainda não me acostumei com o som polifônico do celular...
parece que ouço vozes vindas de todos os lados:
da rua, dos prédios vizinhos etc.
irrita-me sair zureta e perceber que não era o meu,
nem o de ninguém...
invenção


todos têm celular,
moram em prédios,
perambulam pela rua.
nem todos têm bolhas imaginárias no meu cérebro
.

5.6.05


incrível ver você de novo e perceber que o tempo não alterou seu jeito de andar.
o olhar discreto,
quase tímido.
para não dar na cara,
concentro,
finjo ver o trânsito,
atravesso a rua distraída
e...
um pouco sem graça,
meio desajeitada,
viro pra trás.
ainda dá tempo de pegar:
impressões do vermelho
estampadas no seu rosto.

2.6.05

um pouco mais de 300 toques

pensei encontrar nas anotações deixadas na gaveta da cômoda
uma história possível para carlos.
nada. n
as notas,
apenas emendas de frases rígidas, absurdas
sem o que contar, me rebelei contra a página branca
vomitei considerações, devaneei
(esse mundo inventado)
ao ler,
carlos nem se deu conta de que o texto
era todo
espaços vazios.