noite de sábado quente e melancólica ela se aproxima da janela toca a persiana não vê os siameses da vizinha *deitados no piso da área de serviço, a se deliciarem com o geladinho da cerâmica. não estando triste, abre o porão de onde saem lembranças fabulosas: um amor antigo um sorriso no canto esquerdo, debussy, bellabartoc, matmos... muitos cds ainda restam para escutar até que a noite se transforme em sono e o sono traga a manhã seguinte.
como a felicidade me faz bem... assim, helena.
7.10.05
lote de idéias foto: maurício leonardi
talvez eu devesse entrar na internet e pesquisar por que a falta de potássio causa tanta dor nas pernas. (a esta hora não me parece tão lenta) se eu vomitasse toda a cerveja que acabo de tomar não sentiria tão forte, absurdamente forte, esta dor na boca do estômago. às vezes me sinto meio zonza, a procurar um lugar quentinho... quero deitar e dormir até acordar.
6.10.05
notre dame # ainda helena
gosto do meu headphone a idéia de compartilhar a voz que me invade soa estranho. como se qualquer um pudesse também ouvir o que se passa na minha mente. *às vezes é bom ter a sensação deste som doce e agressivo quebrar a parede alheia, silenciar um coração atrapalhado.
eu, você (at the moment)
4.10.05
this is not a funny story *para meu pai
achei, entre a papelada que ainda resta no meu antigo quarto, um pedaço de madeira escrito: “minha filha, nunca abra a caixa de pandora. a minha foi aberta e de lá saíram monstros e fantasmas que até hoje me atormentam”. diria que meu pai é um poeta que teve a carreira amputada; talvez pela perda do irmão ainda jovem, morto estupidamente porque teve medo de ser preso e correu. “M. A. C. V., 20 anos, levou um tiro pelas costas por causa de um bocado de maconha no bolso. chegando em casa, depois de um dia de trabalho, a mãe do jovem deparou com um camburão à sua porta e, dentro, o corpo do caçula”. não foi assim que saiu no noticiário. não sei se exatamente, mas acredito que seja esse o momento em que, para meu pai, a caixa de pandora tenha sido aberta. não fora por curiosidade que os fantasmas se afloraram, mas por um golpe, que desencadeou uma série de anomalias que não permitiram o distanciamento necessário para uma poesia consciente. será preciso gerações para que essa história seja passada a limpo. quanto ao poeta, que se manteve guardado todos esses anos, continuará recluso, até ser completamente esquecido.
– ainda resta a teimosa esperança! – um aspirante a escritor gritou do fundo da sala.
2.10.05
tento escrever para helena e não passa de uma página. (concisão) essa história está me consumindo, aos poucos. penso na raposa albina (versão de matias) que toca a calda no grande lago. deitada, olha para a luz do sol que incide sobre o cacho de uvas. espera demorada