quando vejo os pinheiros
altos e assustadores,
penso no jovem Winllink
poeta que, a respeito do amor,
disse ter encontrado
(no extremo norte)
uma flor de vidro.
25.12.06
19.12.06
17.12.06
10.12.06
3.12.06
2.12.06
de encontros e de mensagens

num simples gesto de apertar a tecla do telefone móvel,
assim como se abre uma caixa de correspondências,
além das urgências do dia:
um sorriso, uma flor.
pousar os braços sobre o corpo
deixar que a noite entre no quarto
sentir o tempo tocar o rosto
antes que me torne sonho,
ainda percebo:
pessoas na calçada, a chuva que cai inteira, o gato a arranhar o vidro.
(para carolina, ana c. e pat)
19.11.06
da leitura de "negro el diez" - cortázar
A estrela
Nasce a claridade.
As cores se espalham.
Mas a dor se abriga inteira.
Toda a luz se abisma.
(simples)
Derramar lírios.
Palavras, silêncio.
(para o ronaldo)
Nasce a claridade.
As cores se espalham.
Mas a dor se abriga inteira.
Toda a luz se abisma.
(simples)
Derramar lírios.
Palavras, silêncio.
(para o ronaldo)
15.11.06
Plano de uma mulher deitando a imagem
11.11.06
23.10.06
o vento beija a água*
se tocar o alto da montanha sentirá o tempo
/[T]ir-ran/[!] ir/[T]ir-ran/[!]/[T]ir-ran/
ir ir ir
possível dizer ao vento
abrande o meu peito
ir ir ir
traga para meu corpo a agilidade dos pássaros a cortar o céu,
a força da tempestade
ir ir ir
sou urso, sou ar, sou pedra
homem pronto para beijar a água
ir ir ir
/ir-rrá[n]/[!]/ir-rrá[n]/[!]/ir-rrá[n]/
/OU/
*transcriação de música ensinada aos inuit pelo vento.
(para pierrou)
se tocar o alto da montanha sentirá o tempo
/[T]ir-ran/[!] ir/[T]ir-ran/[!]/[T]ir-ran/
ir ir ir
possível dizer ao vento
abrande o meu peito
ir ir ir
traga para meu corpo a agilidade dos pássaros a cortar o céu,
a força da tempestade
ir ir ir
sou urso, sou ar, sou pedra
homem pronto para beijar a água
ir ir ir
/ir-rrá[n]/[!]/ir-rrá[n]/[!]/ir-rrá[n]/
/OU/
*transcriação de música ensinada aos inuit pelo vento.
(para pierrou)
22.10.06
18.10.06
Antes dos 40
Não se tem como saber se o cara vai dar um artista,
salvo erro se ele for um gênio
e acabar por morrer cedo
de acidente, doença ou suicídio.
Lembrando que muitos morrem prematuramente,
não vingam,
expelidos pelo corpo da mãe
por algum motivo maior do que eles.
Maior ainda será o imenso silêncio.
Talvez aqui,
nesse lugar original,
esteja o cara.
Livre da sua jornada,
ausente de corpo, apelos, certezas,
e memória
- o intervalo que buscamos, ou a agônica saudade de uma feliz existência.
Aos sobreviventes,
resta não saber,
ou achar que se sabe,
vivendo.
A arte é um porrrrrrrrre...
(um bêbado virando a esquina, amparado pelas duas pernas,
em total descompasso).
Existência é mero detalhe, meus chuchus.
salvo erro se ele for um gênio
e acabar por morrer cedo
de acidente, doença ou suicídio.
Lembrando que muitos morrem prematuramente,
não vingam,
expelidos pelo corpo da mãe
por algum motivo maior do que eles.
Maior ainda será o imenso silêncio.
Talvez aqui,
nesse lugar original,
esteja o cara.
Livre da sua jornada,
ausente de corpo, apelos, certezas,
e memória
- o intervalo que buscamos, ou a agônica saudade de uma feliz existência.
Aos sobreviventes,
resta não saber,
ou achar que se sabe,
vivendo.
A arte é um porrrrrrrrre...
(um bêbado virando a esquina, amparado pelas duas pernas,
em total descompasso).
Existência é mero detalhe, meus chuchus.
12.10.06
Alma raiada
Há um sentimento mentiroso dentro da gente,
não arde.
Ficamos a tomar leite da caixa.
Estourar bolhas sobre a língua.
Sentir o ar entrar e sair,
o dente falhar.
Ouço da janela do quarto:
40º graus.
O cobertor está quentinho,
obrigada.
Animais atravessam ruas
entre carros e bicicletas.
(se der ouvidos aos amigos,
ficará como estátua)
Há quem delire com um pouco de febre.
- Saudade das vacas.
não arde.
Ficamos a tomar leite da caixa.
Estourar bolhas sobre a língua.
Sentir o ar entrar e sair,
o dente falhar.
Ouço da janela do quarto:
40º graus.
O cobertor está quentinho,
obrigada.
Animais atravessam ruas
entre carros e bicicletas.
(se der ouvidos aos amigos,
ficará como estátua)
Há quem delire com um pouco de febre.
- Saudade das vacas.
24.9.06
Onomatopoese*
TUM TI TI TUM pode ser apenas uma onomatopéia para o barulho do tambor.
Talvez possamos, com poesia, descobrir o intervalo-imagem que não necessite de letras garrafais para expressar o som desse instrumento que atravessa a infância
(aprendemos a bater com colher o prato).
Talvez essa imagem, ainda por vir, nos faça recordar da brilhante cena em que o BA-TI-TUM do tambor dessincroniza o discurso planejado de Hitler.
Talvez,
para o jovem Oskar,
fosse mesmo
apenas vontade de não crescer.


*homenagem 2 # ao cinema menor
O Tambor (Die Blechtrommel, 1979)
Direção Volker Schlöndorff
Baseado em livro de Günter Grass
Título em inglês: The tin drum
Talvez possamos, com poesia, descobrir o intervalo-imagem que não necessite de letras garrafais para expressar o som desse instrumento que atravessa a infância
(aprendemos a bater com colher o prato).
Talvez essa imagem, ainda por vir, nos faça recordar da brilhante cena em que o BA-TI-TUM do tambor dessincroniza o discurso planejado de Hitler.
Talvez,
para o jovem Oskar,
fosse mesmo
apenas vontade de não crescer.


*homenagem 2 # ao cinema menor
O Tambor (Die Blechtrommel, 1979)
Direção Volker Schlöndorff
Baseado em livro de Günter Grass
Título em inglês: The tin drum
22.9.06
Fotografia de Farrokhzad
Por que deveria parar, por quê?
Se a vida começa ali nos campos de trigo,
se eu posso correr até o peito arrebentar.
Daria meia volta
ou
chegaria até o fim,
onde me perderia.
Restariam apenas
rosas, um pequeno atalho.
Poesia.
"Sound, sound, sound,
Only sound remains" (FF)
* para oswaldo, por ter me apresentado o cinema menor
Se a vida começa ali nos campos de trigo,
se eu posso correr até o peito arrebentar.
Daria meia volta
ou
chegaria até o fim,
onde me perderia.
Restariam apenas
rosas, um pequeno atalho.
Poesia.
"Sound, sound, sound,
Only sound remains" (FF)
* para oswaldo, por ter me apresentado o cinema menor
21.9.06
12.9.06
6.9.06
4.9.06
a cozinha não era de ladrilho azul-claro
um armário branco não surgia da parede
nas portas, não havia losangos de treliça
prateleiras não exibiam panos quadriculadinhos de vermelho e branco
apenas vidro canelado nas janelas
e um refrigerador com tarja de madeira atravessada
sobre a mesa,
um bolo de fubá e biscoitos de polvilho frito
três xícaras
três gerações se encontrariam para tomar café
palavras no sono,
confusas.
*para minha mãe e vó doquinha
um armário branco não surgia da parede
nas portas, não havia losangos de treliça
prateleiras não exibiam panos quadriculadinhos de vermelho e branco
apenas vidro canelado nas janelas
e um refrigerador com tarja de madeira atravessada
sobre a mesa,
um bolo de fubá e biscoitos de polvilho frito
três xícaras
três gerações se encontrariam para tomar café
palavras no sono,
confusas.
*para minha mãe e vó doquinha
1.9.06
25.8.06
Quarta-feira, Julho 26, 2006*
inferno
Para Glaura
escrito de tempo de dor
Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
che la diritta via era smarrita
Ahi quanto a dir qual era è cosa dura
esta selva selvaggia e aspra e forte
che nel pensier rinova la paura!
Dante
e o arco se dobra e o fio timbra
uma dor profunda
os dedos sangram e o punho vibra em
àsperas veias
um gosto amargo na garganta
o timbre em dó
a garganta em nó
a flecha em rispe
o golpe e o furo
no porcelanato branco do chão
rastos rubros
escorregados
João Lúcio Penharvel
*retirado de confligerante
inferno
Para Glaura
escrito de tempo de dor
Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
che la diritta via era smarrita
Ahi quanto a dir qual era è cosa dura
esta selva selvaggia e aspra e forte
che nel pensier rinova la paura!
Dante
e o arco se dobra e o fio timbra
uma dor profunda
os dedos sangram e o punho vibra em
àsperas veias
um gosto amargo na garganta
o timbre em dó
a garganta em nó
a flecha em rispe
o golpe e o furo
no porcelanato branco do chão
rastos rubros
escorregados
João Lúcio Penharvel
*retirado de confligerante
23.8.06
19.8.06
12.8.06
O geriatra
*para ricardo garro
o geriatra não escreve.
não se trata de um blog conceitual,
não.
a página é branca
simplesmente porque ele não quer escrever.
e continuará lá, persistindo,
até o dia em que um arqueólogo,
fuçando nos guardados de uma mulher velha,
encontrá um papel que diz:
"ressucitei o blog numa tentativa de parar de falar com o espelho.
(...)
não tem nada lá,
mas um dia vai ter.
dê uma olhada de vez em quando para que eu tenha algum leitor.
reminiscências da L`Argent de Poche,
um abraço".
(mania de arquivos)
o geriatra não escreve.
não se trata de um blog conceitual,
não.
a página é branca
simplesmente porque ele não quer escrever.
e continuará lá, persistindo,
até o dia em que um arqueólogo,
fuçando nos guardados de uma mulher velha,
encontrá um papel que diz:
"ressucitei o blog numa tentativa de parar de falar com o espelho.
(...)
não tem nada lá,
mas um dia vai ter.
dê uma olhada de vez em quando para que eu tenha algum leitor.
reminiscências da L`Argent de Poche,
um abraço".
(mania de arquivos)
11.8.06
O encontro
*para dois amigos que vão morar em Lisboa
Encontrei no bailarico
o meu amor.
Laquê no cabelo, vestido comprido, sorriso no canto da boca.
Eu, Ribão, soltinho pra ela:
“Carol, Carol minha, te dou uma flor."
***
Do amor
o amor que sinto por ti.
Encontrei no bailarico
o meu amor.
Laquê no cabelo, vestido comprido, sorriso no canto da boca.
Eu, Ribão, soltinho pra ela:
“Carol, Carol minha, te dou uma flor."
***
Do amor
o amor que sinto por ti.
8.8.06
Irene Rios
"Ele vai me destruir".
Irene repetia várias vezes, enquanto o leite esquentava no fogão.
Não reparando as bolhas,
como poderia ouvir?
O apelo silencioso:
"Irene, Irene, Irene".
Irene repetia várias vezes, enquanto o leite esquentava no fogão.
Não reparando as bolhas,
como poderia ouvir?
O apelo silencioso:
"Irene, Irene, Irene".
5.8.06
esquina.
estamos num bar da Serra.
na calçada:
mesas amarelas, cadeiras, um ponto de táxi.
do balcão a garçonete diz
bolinho, linguiça, empadinha.
mulheres e homens num entra e sai.
fecho os olhos.
(como se fosse aos 13 anos,
no bar do tio Clóvis, em Água Branca)
tudo igual:
talheres, pratos, pessoas.
se virar para trás, lembrá do avô.
estamos num bar da Serra.
na calçada:
mesas amarelas, cadeiras, um ponto de táxi.
do balcão a garçonete diz
bolinho, linguiça, empadinha.
mulheres e homens num entra e sai.
fecho os olhos.
(como se fosse aos 13 anos,
no bar do tio Clóvis, em Água Branca)
tudo igual:
talheres, pratos, pessoas.
se virar para trás, lembrá do avô.
2.8.06
Gliederfüßler*
uma picada de inseto na palma da mão.
não consigo escrever,
não consigo pensar.
*Arthropoden
não consigo escrever,
não consigo pensar.
*Arthropoden
23.7.06
Bárbara
* para edmundo
quando vejo Bárbara
o queixo fica no chão.
- algum amor no passado, algum arrependimento?
não sei.
um cigarro, um copo de cerveja
anéis...
Bárbara está sozinha.
meu coração
não.

bárbara - vandré silveira
filme de carlos gradim
roteiro: glaura cardoso vale
adaptação do conto "e a situação, como é que está?", de edmundo novaes
foto: bianca aun
fonte: www.odeoncompanhiateatral.com.br
quando vejo Bárbara
o queixo fica no chão.
- algum amor no passado, algum arrependimento?
não sei.
um cigarro, um copo de cerveja
anéis...
Bárbara está sozinha.
meu coração
não.

bárbara - vandré silveira
filme de carlos gradim
roteiro: glaura cardoso vale
adaptação do conto "e a situação, como é que está?", de edmundo novaes
foto: bianca aun
fonte: www.odeoncompanhiateatral.com.br
30.6.06
28.6.06
16.6.06
2.6.06
27.5.06
25.5.06
16.5.06
13.5.06
11.5.06
de estar farto (ou) fulo da vida,
resta chorar.
(ou) socar a parede imaginando a cara de alguém.
vidro não é bom.
chorar faz bem. alivia o ódio, que se transforma em raiva
e se torna outra coisa que não os dois.
nem ódio, nem raiva:
desprezo.
desprezo é bom.
– razão dos poetas?
socar a parede,
sangrar sem corte,
mergulhar as mãos em água morna
salgada.
resta chorar.
(ou) socar a parede imaginando a cara de alguém.
vidro não é bom.
chorar faz bem. alivia o ódio, que se transforma em raiva
e se torna outra coisa que não os dois.
nem ódio, nem raiva:
desprezo.
desprezo é bom.
– razão dos poetas?
socar a parede,
sangrar sem corte,
mergulhar as mãos em água morna
salgada.
8.5.06
28.4.06
24.4.06
23.4.06
Arrebatada
– Você já leu Le ravissement de Lol V. Stein? Repito: Você já seguiu junto comigo Lol V. Stein pelas ruas? Aliás, você já me viu Lola seguindo alguém pelas ruas?
Um homem, num café, disse ter visto. Esquisita, mas discreta.
– Lol.
– Je.
– Lol.
– Je.
“She's mine”, o alguém no balcão.
Não!
“Lol is mine”.
*para blue- white.
– Você já leu Le ravissement de Lol V. Stein? Repito: Você já seguiu junto comigo Lol V. Stein pelas ruas? Aliás, você já me viu Lola seguindo alguém pelas ruas?
Um homem, num café, disse ter visto. Esquisita, mas discreta.
– Lol.
– Je.
– Lol.
– Je.
“She's mine”, o alguém no balcão.
Não!
“Lol is mine”.
*para blue- white.
30.3.06
Tongue-in-cheek
# para nica – a respeito do seu cotidiano americano-esquizofrênico
Quantas anas cabem dentro da banana…?
Alguns escritores, para suportar o cotidiano, riam de si mesmos adquirindo assim o hábito de uma escrita leve, entenda-se leveza. Isso seria um tipo de ironia refinada, desfrutada por alguns cuja vida muitas vezes era até dramática. O caso de Ferreira Botelho pode ser um bom exemplo.
Algum tempo depois vieram os surrealistas que viram pessoas em objetos, objetos em pessoas e criaram seres que não se metamorfosearam por completo.
Corpo de homem, cabeça de maçã:
o cotidiano substituindo a figura do centauro ou do minotauro.
Mas, aqui, não espere do “mito” o que o mito representa… E me pergunto se Teseu não se lembraria do ditado "one apple a day…”, devorando assim a suculenta e gigantesca cabeça verde de Magritte.
Outro dia, a respeito de Gogol, pensei no nariz a passear pelas ruas.
A função da hipérbole é causar estranhamento: alguém já viu um nariz gigante dando ordens por aí?
Para quem já sonhou ser um e-mail e a dificuldade de baixar um arquivo consistia numa azeitona entalada na garganta, isso de nariz me soa até muito realista.
Não há nada demais…, somente a transformação de brincadeiras e de estórias extraordinárias da infância – ou dessa nossa possibilidade de ver nas nuvens baianas, animais, almofadas, algodão – em algo mais insólito, transposto para um universo igualmente especial. A pedra contém a escultura mas o homem, para constatar, vai lá e dá umas lascadinhas…
Já outros pintam pássaros de pedra voando…
nem pedra, nem pássaro, é tinta sobre tela… o tal poema de que lhe falei.
*Os olhos ficando aguçados na leitura do episódio da banana…
Faço, então, uma inversão, nos moldes da literatura infantil:
a fome era tanta
que,
diante do risco da queixa,
a banana devorou a ana.
Quantas anas cabem dentro da banana…?
Alguns escritores, para suportar o cotidiano, riam de si mesmos adquirindo assim o hábito de uma escrita leve, entenda-se leveza. Isso seria um tipo de ironia refinada, desfrutada por alguns cuja vida muitas vezes era até dramática. O caso de Ferreira Botelho pode ser um bom exemplo.
Algum tempo depois vieram os surrealistas que viram pessoas em objetos, objetos em pessoas e criaram seres que não se metamorfosearam por completo.
Corpo de homem, cabeça de maçã:
o cotidiano substituindo a figura do centauro ou do minotauro.
Mas, aqui, não espere do “mito” o que o mito representa… E me pergunto se Teseu não se lembraria do ditado "one apple a day…”, devorando assim a suculenta e gigantesca cabeça verde de Magritte.
Outro dia, a respeito de Gogol, pensei no nariz a passear pelas ruas.
A função da hipérbole é causar estranhamento: alguém já viu um nariz gigante dando ordens por aí?
Para quem já sonhou ser um e-mail e a dificuldade de baixar um arquivo consistia numa azeitona entalada na garganta, isso de nariz me soa até muito realista.
Não há nada demais…, somente a transformação de brincadeiras e de estórias extraordinárias da infância – ou dessa nossa possibilidade de ver nas nuvens baianas, animais, almofadas, algodão – em algo mais insólito, transposto para um universo igualmente especial. A pedra contém a escultura mas o homem, para constatar, vai lá e dá umas lascadinhas…
Já outros pintam pássaros de pedra voando…
nem pedra, nem pássaro, é tinta sobre tela… o tal poema de que lhe falei.
*Os olhos ficando aguçados na leitura do episódio da banana…
Faço, então, uma inversão, nos moldes da literatura infantil:
a fome era tanta
que,
diante do risco da queixa,
a banana devorou a ana.
29.3.06
# lições de tradução #
os cus de judas
ou
le cul de judas
ou
der judas kuss
ou
de judas kus
ou
in culo al mondo
ou
sarutul lui iuda
ou
hinsides helvete
ou
de forrudda
ou
sjovernes odyssé
ou
hevonkuusessa
ou
south of nowhere…
como vê, quando não tem cu, tem judas, salvo erro de entendimento do sueco, norueguês, dinamarquês.
ando enferrujada.
em inglês, somente a idéia persiste.
isso é o que chamamos de tradução não-literal.
*resta ainda uma outra tradução, de língua eqüidistante:
“saduj ed suc so”. mas a publicação ainda não está prevista, por causa da alta do betelnut.
os cus de judas
ou
le cul de judas
ou
der judas kuss
ou
de judas kus
ou
in culo al mondo
ou
sarutul lui iuda
ou
hinsides helvete
ou
de forrudda
ou
sjovernes odyssé
ou
hevonkuusessa
ou
south of nowhere…
como vê, quando não tem cu, tem judas, salvo erro de entendimento do sueco, norueguês, dinamarquês.
ando enferrujada.
em inglês, somente a idéia persiste.
isso é o que chamamos de tradução não-literal.
*resta ainda uma outra tradução, de língua eqüidistante:
“saduj ed suc so”. mas a publicação ainda não está prevista, por causa da alta do betelnut.
27.3.06
11.3.06
# kein thema
meu pai sempre escreveu cartas.
um dia, comprou envelope, selo, papel de arroz.
num movimento com os punhos escreveu um poema.
endereçou para si mesmo e postou.
quer prova maior de solidão do que essa?
hoje,
para manter o hotmail ativo,
mando mensagens de outra conta para mim mesma e as respondo em seguida.
estranho movimento com os punhos.
quer prova de vidinha mais medíocre do que esta?
meu pai sempre escreveu cartas.
um dia, comprou envelope, selo, papel de arroz.
num movimento com os punhos escreveu um poema.
endereçou para si mesmo e postou.
quer prova maior de solidão do que essa?
hoje,
para manter o hotmail ativo,
mando mensagens de outra conta para mim mesma e as respondo em seguida.
estranho movimento com os punhos.
quer prova de vidinha mais medíocre do que esta?
26.2.06
tédio instalado
do lado de fora
uma chuva fina faz deslizar os carros
carnaval sem carnaval
pessoas conversam na calçada
o vigia apita
um homem vestido de polícia sorri para alguém
“o balancê, balancê…”
do lado de dentro
a cama desfeita, almofadas no chão
sobre a mesa: xícara de café, escultura de gueixa, luminária,
pequenos dicionários, um perfume a evaporar
estranha sobriedade
do lado de fora
uma chuva fina faz deslizar os carros
carnaval sem carnaval
pessoas conversam na calçada
o vigia apita
um homem vestido de polícia sorri para alguém
“o balancê, balancê…”
do lado de dentro
a cama desfeita, almofadas no chão
sobre a mesa: xícara de café, escultura de gueixa, luminária,
pequenos dicionários, um perfume a evaporar
estranha sobriedade
13.2.06
Querida A.R.,
sonhei novamente. Como nesses filmes Norte-americanos… você perseguia eu e a T. e nós corríamos. Muito.
Fugíamos de alguma lembrança?
Do momento… não tenho dúvida.
Do seu trágico destino, restam dores e o sentimento de culpa…
culpa, culpa, culpa…
como as veias pulsam e levam o líquido para o corpo.
Nem o sonho para tornar possível nosso encontro.
Temos medo do que vai dizer. Temos?
Como controlar essas imagens?!
Passaremos então a correr compulsivamente,
da sua dor, do telefonema e do PÁ!
Estamos assim… gente a vagar ruas… sem destino certo. Procurando ver os amigos que não nos querem ver. Não nos querem sentir. Não nos querem ouvir.
Tento pensar em coisas mais práticas. Arredar os móveis, varrer a casa, limpar os livros...
ah! os livros…
O jeito é ser objetivo, percebe?!… o jeito é ser objetivo e só chorar na solidão do banheiro, submersa em água quente, na piscina de plástico…
um salzinho grosso ajuda bem… alivia esse peso do cotidiano nas costas.
As gotas no corpo se misturam às gotas que caem do rosto e o rosto mergulha na água salgada na tentativa de afogar a memória… O cheiro de sangue quente a pingar do colchão, o furo no guarda-roupa e os objetos que se seguiram sem a sua presença.
A cidade continua a mesma.
Helena.
sonhei novamente. Como nesses filmes Norte-americanos… você perseguia eu e a T. e nós corríamos. Muito.
Fugíamos de alguma lembrança?
Do momento… não tenho dúvida.
Do seu trágico destino, restam dores e o sentimento de culpa…
culpa, culpa, culpa…
como as veias pulsam e levam o líquido para o corpo.
Nem o sonho para tornar possível nosso encontro.
Temos medo do que vai dizer. Temos?
Como controlar essas imagens?!
Passaremos então a correr compulsivamente,
da sua dor, do telefonema e do PÁ!
Estamos assim… gente a vagar ruas… sem destino certo. Procurando ver os amigos que não nos querem ver. Não nos querem sentir. Não nos querem ouvir.
Tento pensar em coisas mais práticas. Arredar os móveis, varrer a casa, limpar os livros...
ah! os livros…
O jeito é ser objetivo, percebe?!… o jeito é ser objetivo e só chorar na solidão do banheiro, submersa em água quente, na piscina de plástico…
um salzinho grosso ajuda bem… alivia esse peso do cotidiano nas costas.
As gotas no corpo se misturam às gotas que caem do rosto e o rosto mergulha na água salgada na tentativa de afogar a memória… O cheiro de sangue quente a pingar do colchão, o furo no guarda-roupa e os objetos que se seguiram sem a sua presença.
A cidade continua a mesma.
Helena.
1.2.06
topa gastar um din-din ali?!
esse deveria ser o lema de todos que se atrevem a sair de casa, atravessar a rua e...
um pulinho até a padaria : R$ 16,00…
*quatro pães : R$ 1,72?!!! *manteiga : R$ 2,90
*duas fatias de bolo : R$2,00...
querido, tenho trocado não... um pequeno habitante me olha,
entrecortado.
“nem fudeno que eu quero falá [de literatura]” …
“a vida tem saído muito cara, meu irmão”…
“tem que trabalhá, trabalhá, até o osso”…
“você me aguarde aí, bem sentadinha, que eu preciso ganhá um din-din ali”…
esse deveria ser o lema de todos que se atrevem a sair de casa, atravessar a rua e...
um pulinho até a padaria : R$ 16,00…
*quatro pães : R$ 1,72?!!! *manteiga : R$ 2,90
*duas fatias de bolo : R$2,00...
querido, tenho trocado não... um pequeno habitante me olha,
entrecortado.
“nem fudeno que eu quero falá [de literatura]” …
“a vida tem saído muito cara, meu irmão”…
“tem que trabalhá, trabalhá, até o osso”…
“você me aguarde aí, bem sentadinha, que eu preciso ganhá um din-din ali”…
15.1.06
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