26.11.10

pode o poema custar a vida do poeta?
cortei a pele com a faca
para que a dor da alma se instalasse no corpo
tudo que posso lhe dar
é uma cicatriz

23.11.10

Kawase*
 
Encontrar o mundo e sua superfície
Tocar a superfície 
As imagens tocam a morte

Sua maior certeza
Estar ainda vivo 

Incerto somente
O outro mundo que o aguarda

Ela filma para viver, para se sentir viva,
Para se relacionar com o mundo,
Talvez para se encontrar consigo mesma no mundo
Interroga a si e os outros
Deixa aparente suas dúvidas, angústias, ressentimentos e dissabores
Também a ternura  
Nas palavras sinceras que resistem

Adormece o crítico, com o pôr-do-sol
Cujo ciclo independe de nós
Cerejeiras amarelas em flor

A você
Uma carta para não fazer morrer este sentimento

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*ao querido amigo Fred que está sozinho na Suíça e que não pode desfrutar das tardes chuvosas de domingo

13.11.10


que dia o amor vem o mar encontrar?

perco noites de sono
horas buscando versos
palavras que descrevam este sentimento

tudo no mundo num único poema?

tudo é a vida!
seus olhos sutilmente desencontrados
enxergam para além das incertezas
e pousam sobre mim
pedindo mais um dia que seja

mas o mar é temeroso

náufragos que somos
e vamos tentando suspeitar
da manhã que chega

o homem que eu amo

tem olhos de floresta
a floresta é tudo aquilo que eu vejo

10.11.10

Às vezes a palavra corta como uma lâmina afiada
E fere quem a gente quer esteja bem
A palavra não revela o apelo deste corpo
E fere a minha alma
Que adormece sem que se perceba
Embalada pelo som de um trem 



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para o poeta que dorme em meus braços

7.11.10

Quando não se espera nada,
De repente somos tomados pelo sentimento
Como saber se é chegada a hora?
Como saber se é você
e não outro
A despertar o amor em mim adormecido?
Que o vento sussurre em meus ouvidos
E diga mais uma vez
Vá!
Ou não
Fique!

2.11.10

O barco

Ela sentada à mesa
Ele pensando na vida
Trocam duas, três palavras
Louvre, Orsay, Montparnasse
Traçam destinos no mapa
Saint-François-Xavier/ Invalides
Ou se preferir
Uma caminhada pela Avenue du Maréchal Gallieni

A casa é como um barco  
Se tornando memória
Da janela da pequena sala,
Ainda se pode ver as ondas baterem na proa,
também o cair da tarde sobre uma falésia 

 
Paris, 2007
para Gustavo Schettino
que me recebeu como uma amiga