25.6.07

De amigos etnográficos

Acabo de chegar em Sintra.
O destino é a Praia das Maçãs.
Ver o litoral.

A cidade é charmosa
onde deveria ter hospedado uns dias.

Tiro impressões de uma tarde.
Sozinha.

Lembrar das pessoas queridas, tarefa do poeta?

O silêncio é mesmo o lugar da escrita.
Corro o risco da metáfora.
Não tenho pressa. Digo devagar.

- A visão é sempre um corte cinematográfico.

(Para Oswaldo)

23.6.07

Joaquim

Estivesse em Belo Horizonte iria beijar a mulher e cumprimentar o homem mais lindo do mundo, o marido.
Ela sabe que é verdade. Não preciso rodear a carne e fingir que não vejo.
Todos concordam, inclusive o meu.

19.6.07

De anjos e pássaros

Deixei de escrever há um tempo para dar lugar às notas práticas.
Onde seguir, que rua é melhor pegar, onde ir.
Mudei de casa em Lisboa, mas já estive em mais três e dois hotéis nesta estada Luanda-Dundo-Lisboa-Porto-Vila Real-Paris.
Durante um tempo tive vontade de estar em casa, por uma noite apenas, colocar os pés em água quente e sal.
Beijar Ronaldo. E voltar.
Agora aproveito os últimos dias na cidade de Pessoa e possível visita a Évora e Sintra, lugares que não poderia deixar de conhecer por estarem tão perto. A Praia das Maçãs fica em Sintra e a curiosidade é imensa.
Comprei as cartas de guerra de Lobo Antunes e senti o amor de um jovem casal. Um esforço para se manter vivo.
Na guerra nada parece escrito.

Retomo os exercícios de fixar as ruas e reaprender a me localizar.
Agora, sentada numa igreja de pedra, se fechar os olhos posso estar na de São José, no centro de Belo Horizonte, onde tantas vezes fui.
- Traz de volta o sentimento que me deste na infância. O amor pelos pássaros, pelo ar, pelo céu azul.
Não imploro aos santos uma sanidade. O sentimento beato não deveria ser encoberto.
- Quem nunca pediu a Deus a cura de uma indigestão?
- Rogai por nós.
Desligaram a música. Desço a rua até a Baixa para postar esta carta.


(Para Ronaldo)

13.6.07

Em pequena via meu pai cortar o calo com uma navalha.
Vazava em mim um sentimento de sangue.
(Temo os objetos cortantes)

Hoje, na Praça da Figueira, tive medo da vida.
Temi pelos antepassados. Temi por terem cruzado o Atlântico.
Talvez fosse apenas vontade de virar as costas.
Dizem muito adeus por aqui.

A metade que existe em mim, o medo, está no gesto de rasgar o calo em água quente e sal.
Dos livros que meu pai depositou na estante
Quixote, Werther, Dom Casmurro, Glaura.

7.6.07

Poema para Ronaldo

A orquestra acorda suavemente.
Por favor, grita o homem ao centro.
Faz uma pausa.
Quem está de pé no escuro? - diz o maestro.
Os dedos estão leves, a reger os instrumentos.
Homem inquieto.
Em minha mente faço versos menores. Tradução desse som.
Imagino palavra e música.
Procuro Samuel Beckett.

Girar Girar Girar
Diga as regras. Cairei em sono profundo.
Todos os poemas endereçados a você.

1.6.07

Pardon

As máscaras sorriem.
Não é tempo de sonhar.

Se pudesse escreveria compulsivamente.
Mas tudo vira metáfora imprópria.

Corvos no pátio.
Catedral sombria.

Paris
em qualquer museu.

Podemos ser mais perturbados.
Caminhar perdendo o jogo das pernas.
Loucos, portanto.