9.10.05

seqüência #4 *para pedrães





noite de sábado quente e melancólica
ela se aproxima da janela
toca a persiana
não vê os siameses da vizinha
*deitados no piso da área de serviço,
a se deliciarem com o geladinho da cerâmica.
não estando triste,
abre o porão
de onde saem lembranças fabulosas:
um amor antigo
um sorriso no canto esquerdo,
debussy, bellabartoc, matmos...
muitos cds ainda restam para escutar
até que a noite se transforme em sono
e o sono traga a manhã seguinte.


como a felicidade me faz bem...
assim,
helena.



7.10.05




lote de idéias
foto: maurício leonardi

talvez eu devesse entrar na internet e pesquisar por que a falta de potássio causa tanta dor nas pernas.
(a esta hora não me parece tão lenta)
se eu vomitasse toda a cerveja que acabo de tomar não sentiria tão forte,
absurdamente forte,
esta dor na boca do estômago.
às vezes me sinto meio zonza,
a procurar um lugar quentinho...
quero deitar e dormir
até acordar.

6.10.05

notre dame # ainda helena

gosto do meu headphone
a idéia de compartilhar a voz que me invade soa estranho.
como se qualquer um pudesse também ouvir o que se passa na minha mente.
*às vezes é bom
ter a sensação deste som
doce e agressivo
quebrar a parede alheia, silenciar um coração atrapalhado.

eu, você
(at the moment)

4.10.05

this is not a funny story
*para meu pai

achei, entre a papelada que ainda resta no meu antigo quarto, um pedaço de madeira escrito:
“minha filha, nunca abra a caixa de pandora. a minha foi aberta e de lá saíram monstros e fantasmas que até hoje me atormentam”.
diria que meu pai é um poeta que teve a carreira amputada; talvez pela perda do irmão ainda jovem, morto estupidamente porque teve medo de ser preso e correu. “M. A. C. V., 20 anos, levou um tiro pelas costas por causa de um bocado de maconha no bolso. chegando em casa, depois de um dia de trabalho, a mãe do jovem deparou com um camburão à sua porta e, dentro, o corpo do caçula”. não foi assim que saiu no noticiário.
não sei se exatamente, mas acredito que seja esse o momento em que, para meu pai, a caixa de pandora tenha sido aberta. não fora por curiosidade que os fantasmas se afloraram, mas por um golpe, que desencadeou uma série de anomalias que não permitiram o distanciamento necessário para uma poesia consciente.
será preciso gerações para que essa história seja passada a limpo. quanto ao poeta, que se manteve guardado todos esses anos, continuará recluso, até ser completamente esquecido.

– ainda resta a teimosa esperança! – um aspirante a escritor gritou do fundo da sala.

2.10.05

tento escrever para helena
e não passa de uma página. (concisão)

essa história está me consumindo,
aos poucos.
penso na raposa albina (versão de matias)
que toca a calda no grande lago.
deitada,
olha para a luz do sol que incide sobre o cacho de uvas.

espera demorada