31.10.11

2. fragmento no bolso


o seu sorriso me transporta para o sul de Luanda. numa praia que vi quase deserta.
praia de puro sal 

onde a imensidão do mar provoca uma saudade. 
acompanhei as tardes virarem noite 
e as noites virarem dia. 

o sol, antes mesmo de tocar o infinito, se desmanchava  
como uma bola de fogo que se desfaz com o vento,
misturando no céu matizes que não posso descrever.

lá, percebi que estava sozinha. que o amor era também uma invenção 

e que apenas a mim pertencia. 
assim como os versos que por ora lia ou escrevia.
sempre suspeitei disso.

certa noite, vendo-o dormir, me lembrei dessas imagens eternizadas pela memória. 

toquei seu corpo sem que percebesse. 
e o menino, em pele de homem, abrandou meu coração,
do mais puro afeto.

nesse momento, tive medo de que despertasse dos seus sonhos
e descobrisse o meu segredo.
alguém haverá de compreender tudo isso um dia.  




30.10.11

17# do canto

1. fragmentos no bolso

Nesta manhã, enquanto tudo parece calmo, lembrei-me do seu rosto colado à janela. Você sorrindo. Era ainda dezembro e não sabíamos por quanto tempo adormeceríamos juntos. Foi súbita a sua partida. Hoje as palavras me faltam. Não sei se escreverei todos os dias como antes. Faltam-me ânimo, coragem, vontade. Um romance por fazer. Fragmentos deixados de lado. Já não mais existem gavetas e os papéis se espalham pelo quarto. Uma pequena caixa guarda cadernos inconclusos. Os livros em colunas até o teto.

Vontade de me lançar em outro corpo 
sem medo, restrição ou condições. 
Como caminhar de mãos dadas numa praia.  

18.10.11

uma canção de amor

passei a suspeitar da dor
porque era preciso
e na solidão que ela produz
encontro versos menores
para que você
apenas você
pudesse tocar

não falar das paixões
é quase impossível
o calor dos corpos na cama
a noite que se torna dia
e das mágoas passadas
dessas que deixam marcas
uma canção de amor

entrego-me completamente
despindo-me de toda vaidade
deixando de lado a timidez
lançando-me no abismo
para que o poema não morra
e da pedra
faça brotar uma flor

10.10.11



















um novo tempo se aproxima
trazendo o riso de um garoto
enquanto o vento toca a face,
vem como ninguém
deitar nos meus braços

abranda os dias com as suas mãos
abraçando o meu corpo
pois os seus abraços
provocam a minha alegria
e permaneceremos os dois
inertes
aguardando mais uma manhã chegar 

8.10.11

prenúncio 

pelo cotidiano partilhado
por todos os poemas que não pude lhe endereçar
resta nos arquivos esta canção
quando ainda sonhávamos juntos
um mundo a ser conquistado
esteja bem, que eu estarei também 








6.10.11

perco-me mais uma vez na imensidão da noite
procuro um rosto
ou o rastro do seu sorriso
e quando meu corpo encontra o seu
não há forma de controle
restrição da vontade
e me coloco mais uma vez perante o espelho
na tentativa de compreender
o que de fato movimenta sentidos e desejos