Aos domingos, quando lá íamos ao centro da cidade, meu pai passava pela
banca de revistas de um amigo na Praça Sete, comprava o jornal e
figurinhas para o meu álbum. Seguíamos pela Afonso Pena até a igreja São
José. Durante a homilia, eu sabia que ele pensava em seus mortos e
agradecia por estarmos com saúde. De pé, a cena que me vem à mente é de
um semblante muito sério, o olhar compenetrado para frente. Sentado,
tinha os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto coberto pelas mãos. Já
as minhas mãos, elas estavam suficientemente ocupadas com ilustrações e
sonhos para fazer o sinal da cruz. Hoje, sou eu a pensar em meus mortos e agradecer por estarmos com saúde. Ao reencontrar a igreja restaurada, imagino –
com a expressão herdada
– que meu pai se alegraria de vê-la assim.
sequência: Manoel Neto