8.1.16

Aos domingos, quando lá íamos ao centro da cidade, meu pai passava pela banca de revistas de um amigo na Praça Sete, comprava o jornal e figurinhas para o meu álbum. Seguíamos pela Afonso Pena até a igreja São José. Durante a homilia, eu sabia que ele pensava em seus mortos e agradecia por estarmos com saúde. De pé, a cena que me vem à mente é de um semblante muito sério, o olhar compenetrado para frente. Sentado, tinha os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto coberto pelas mãos. Já as minhas mãos, elas estavam suficientemente ocupadas com ilustrações e sonhos para fazer o sinal da cruz. Hoje, sou eu a pensar em meus mortos e agradecer por estarmos com saúde. Ao reencontrar a igreja restaurada, imagino – com a expressão herdada  – que meu pai se alegraria de vê-la assim. 

 

 
sequência: Manoel Neto