25.8.11

nesta vida mergulhada em versos
sigo com palavras sem retorno 
e não consigo compreender
um olhar distante

parece... apenas parece
que Hilda está comigo
e antecipa, como em todas as manhãs,
aquele que virá me visitar

sobre tudo aquilo que sinto

nem sempre procuro
mas quando encontro
crio formas simples de dizer
o amor que imagino por você

(do livro: noite infinita)

24.8.11

III

e agora, meu caro amigo
o que fazer com isso?
tão rápido não valeu a despedida
e o corpo que lhe deu abrigo
esperando pelo seu
na insônia que ronda o quarto

razão esta que me faz escrever
versos ainda mal curados
na esperança de compreender
o mistério que há entre o desejo e a vaidade

mas se fecho os olhos, ah...
é só você que eu vejo
quando a lua começa a sorrir com ironia
parece querer dizer
sou toda sua, mulher e poeta

20.8.11

II

como descrever uma alegria?
o beijo doce de um poeta...
as horas até o dia amanhecer
meu corpo, ao encontrar o seu,
sonha intranquilo
na busca de um sorriso

e este corpo recebe o seu corpo
na esperança de abrigar palavras
que poderia ignorar
como se ignora o tempo

só que às vezes simplesmente
bastava dizer um ao outro
o desejo de fazer durar
tento tornar a insônia produtiva. sei que tenho que levantar, acender a luz, procurar lápis e papel, achar a razão do poema. mas a razão permanece no corpo imóvel. que busca, com o pensamento, ordenar frases. o corpo se nega a acender a luz. mesmo sabendo que, se não o fizer, amargará por não deixar fluir as notas que ofereço.

a lua sorri mais uma vez com ironia, enquanto Pessoa nos rouba os sonhos. os mesmos que permaneceram guardados, para que apenas você pudesse tocar.  somente pela manhã saberemos. a cama do poeta é um bom lugar para se deitar.


(para o grave)

15.8.11

o que dizem os pássaros

I

na minha solidão
ouço os pássaros conversarem
e eles dizem de um tempo distante
em que toda a dor se dissolveu
para dar abrigo a este corpo sobre o meu

e é neste instante
embalado pelo som de um trem
quando a vida parece mesmo possível
que você sorri e diz vem

não importa 
quem não compreende
a conversa dos pássaros
e este canto todo seu e meu

11.8.11

Llansol:

Quantas vezes os nossos olhares se trocam. Quase sempre, vão e voltam e, quando não voltam, quantas vezes nos esquecemos de libertar o segredo da posse. E é de propísito que o fazemos.

Sabemos que em nada nos podemos mentir e, mesmo mentindo, o outro conhece a verdade e acredita na mentira que estamos trocando. E não é por mal. 

a Ela você pergunta:

O quanto se pode mentir quando a escrita é mais importante?

Llansol: 
  
Quantas vezes sabemos que a alma está pairando no rebordo dos dedos pousados na mesa. E continuamos como se não tivéssemos a alma que, de facto, temos. 

E me diz, olhando o horizonte:

Vejo um jardim magoado







9.8.11

já é noite
daqui a pouco vem o sono
a espera de que o dia comece mais uma vez...

pela manhã, uma xícara de café 
para que os ânimos se renovem
à tarde, como todas as tardes,
com o sol ainda quente
tomaremos algo gelado
para que o calor não nos derreta a alma
a noite chegue
depois o sono
e a espera


6.8.11

António Lobo Antunes

Os relógios
A casa de Bergman
Também o peso de papel
Uma imagem da infância
                                Kane
As tias a rodopiar pelo assoalho
como bailarinas na caixinha de música
                                                 Mozart

Então é assim que se escreve?
Pousar a caneta no papel
Fazer correr as palavras
Repetir, repetir, repetir
Deixar que o tempo se encarregue do resto
Escrevi em outros tempos versos amargos
Era raiva, quem sabe
Mas o amor parece mais forte do que a morte