26.4.07

Rumo ao Norte

Não, não se pode ser covarde com os dedos.
A impaciência ilude o cara.
Estou em Omaha, Saint Louis, Memphis.
Amanhã, no porto, farei versos melhores.
Missouri, Ohio, Mississippi.

- Ao encontrar Dora pedirei desculpas.
Cantarei um ritmo incomum.
Trarei para perto do meu ombro uma mulher sorrindo.

(dos Cadernos de Jazz)

19.4.07

Hibisco

Esta flor marca bem a infância.
O jardim da capela, a frente da casa,
a brincadeira da rainha com sua coroa e saia rodada.
Várias flores marcam a infância.
Pequenas bailarinas, anjos, borboletas,
mas são flores.


16.4.07

Em 1915

Procurei dados sobre Nicolau Paropas.
Pouco se sabe de Nicolau.

(que gostava de café e cigarros
que era poeta
que não disse para onde iria)

Poema sobre a moça inclinada.
Toque delicado de vento na árvore.
Ela sonhava Isidora.

12.4.07

Extracampo*

(O pulso esquerdo dói um pouco.
Não consigo carregar o pires com uma das mãos
e levantar a xícara elegantemente com a outra.)

Não consigo.
Estou cansada.

Trocando palavras.
- Rubricas.
Procurando imagens.
- Contas a pagar.

No canto do armário,
a foto de um falecido,
as primeiras ilustrações,
um argumento.

- Arquivo

(Se girar, queimo a pele.)


*para Sil e Bu/ Ana e Beto.

7.4.07

Clareira

Vejo uma usina sair de dentro da montanha.
Cilindros tocam o céu
e uma fumaça cinza dissolve a atmosfera.
Vejo uma casa verde e uma estufa.
Animais passeando pelo capim.
Um filete de água, roupas no varal.
É dia, e não vejo árvores.

2.4.07

A dor do poeta

Se perguntar ao poeta,
ele dirá que não sabe como se arranca uma dor.
Eu, que não sou poeta,
também não sei arrancar com as mãos a dor.
Queria ouvir uma música suave,
apenas isso,
mas os ouvidos estão tampados.
Se há música, se há tom suave,
ele passará pelas frestas da janela e tocará o rosto.
Acariciará a pele,
talvez amanhã, talvez sempre.

(para Júnia)