25.12.06

quando vejo os pinheiros
altos e assustadores,
penso no jovem Winllink
poeta que, a respeito do amor,
disse ter encontrado
(no extremo norte)
uma flor de vidro.

19.12.06

Encontrar com Angola cria uma certa confusão
(difícil explicar)

É cedo para esquecer seu dilaceramento.
Canto que invade os cômodos da casa.
O português continuará sendo o colonizador?

Olhos condensam passado e presente.
(difícil dizer)
Tudo acaba incerto.

17.12.06










a história é velha.
um amor não correspondido,
uma amizade.
basta fechar os olhos,
para o amor passar.
diria minha mãe, com os olhos fixos no tricô.

10.12.06

com o amor

não se deve comportar
como um caminhão desgovernado.
agir com os sentidos,
também pensar, sorrir.
desconfie sempre da poesia.
o cotidiano é mais duro do que a bela escrita.

(da caderneta de uma mulher velha)
Enquanto o sono não vem.
Não fosse o headphone enlouquecia.
Mais do que insônia, entende?
Talvez soe mais forte que isso.

3.12.06
















se o vejo entre as pessoas,
o espero mais ainda,
meu amor.
sem você sou ar sem vento.
e sem vento,
a noite não pode me tocar.

2.12.06

de encontros e de mensagens

















num simples gesto de apertar a tecla do telefone móvel,
assim como se abre uma caixa de correspondências,
além das urgências do dia:
um sorriso, uma flor.

pousar os braços sobre o corpo
deixar que a noite entre no quarto
sentir o tempo tocar o rosto

antes que me torne sonho,
ainda percebo:
pessoas na calçada, a chuva que cai inteira, o gato a arranhar o vidro.


(para carolina, ana c. e pat)

19.11.06

da leitura de "negro el diez" - cortázar

A estrela

Nasce a claridade.
As cores se espalham.
Mas a dor se abriga inteira.
Toda a luz se abisma.

(simples)

Derramar lírios.
Palavras, silêncio.


(para o ronaldo)

15.11.06

Plano de uma mulher deitando a imagem

Se esta não é umas das cenas que mais arrebata a poetisa,
pelo menos é a que mais imprime nela o sonho



















sair sem destino.
sair.

à sua frente,
um carro que filma.


(para cacá maia)

23.10.06

o vento beija a água*

se tocar o alto da montanha sentirá o tempo

/[T]ir-ran/[!] ir/[T]ir-ran/[!]/[T]ir-ran/
ir ir ir

possível dizer ao vento
abrande o meu peito
ir ir ir

traga para meu corpo a agilidade dos pássaros a cortar o céu,
a força da tempestade
ir ir ir

sou urso, sou ar, sou pedra
homem pronto para beijar a água
ir ir ir

/ir-rrá[n]/[!]/ir-rrá[n]/[!]/ir-rrá[n]/

/OU/


*transcriação de música ensinada aos inuit pelo vento.
(para pierrou)

18.10.06

Antes dos 40

Não se tem como saber se o cara vai dar um artista,
salvo erro se ele for um gênio
e acabar por morrer cedo
de acidente, doença ou suicídio.
Lembrando que muitos morrem prematuramente,
não vingam,
expelidos pelo corpo da mãe
por algum motivo maior do que eles.
Maior ainda será o imenso silêncio.
Talvez aqui,
nesse lugar original,
esteja o cara.
Livre da sua jornada,
ausente de corpo, apelos, certezas,
e memória
- o intervalo que buscamos, ou a agônica saudade de uma feliz existência.

Aos sobreviventes,
resta não saber,
ou achar que se sabe,
vivendo.

A arte é um porrrrrrrrre...
(um bêbado virando a esquina, amparado pelas duas pernas,
em total descompasso).
Existência é mero detalhe, meus chuchus.

12.10.06

Alma raiada

Há um sentimento mentiroso dentro da gente,
não arde.
Ficamos a tomar leite da caixa.
Estourar bolhas sobre a língua.
Sentir o ar entrar e sair,
o dente falhar.

Ouço da janela do quarto:
40º graus.
O cobertor está quentinho,
obrigada.

Animais atravessam ruas
entre carros e bicicletas.

(se der ouvidos aos amigos,
ficará como estátua)

Há quem delire com um pouco de febre.
- Saudade das vacas.

24.9.06

Onomatopoese*

TUM TI TI TUM pode ser apenas uma onomatopéia para o barulho do tambor.
Talvez possamos, com poesia, descobrir o intervalo-imagem que não necessite de letras garrafais para expressar o som desse instrumento que atravessa a infância
(aprendemos a bater com colher o prato).
Talvez essa imagem, ainda por vir, nos faça recordar da brilhante cena em que o BA-TI-TUM do tambor dessincroniza o discurso planejado de Hitler.
Talvez,
para o jovem Oskar,
fosse mesmo
apenas vontade de não crescer.





















*homenagem 2 # ao cinema menor

O Tambor (Die Blechtrommel, 1979)
Direção Volker Schlöndorff
Baseado em livro de Günter Grass
Título em inglês: The tin drum

22.9.06

Fotografia de Farrokhzad

Por que deveria parar, por quê?
Se a vida começa ali nos campos de trigo,
se eu posso correr até o peito arrebentar.
Daria meia volta
ou
chegaria até o fim,
onde me perderia.
Restariam apenas
rosas, um pequeno atalho.
Poesia.

"Sound, sound, sound,
Only sound remains" (FF)

* para oswaldo, por ter me apresentado o cinema menor

21.9.06

É tão bonito o caixilho de tabuinhas a bater com o vento
Êxtase num dia
Ressaca no outro
Alarme disparado lá fora

13.9.06

como as coisas são*









*uma mulher bonita.

(foto: glaura.
retrabalhada por ana carvalho)

12.9.06

penso no doce de laranja.
raspas de limão sobre a espuma de leite.
queimadinho de açúcar.

o natal é uma hiperglicemia.

6.9.06

Todo mundo passa por tristeza um dia.
Mas é um ato extremamente solitário
Olhar pela janela,
Numa tarde fria.
Ver a rua se iluminar.
Não ser nenhuma das meninas de botas brancas
A dar sinal para o ónibus.
Acho mesmo
que a grade da janela não impede poesia.

4.9.06

a cozinha não era de ladrilho azul-claro
um armário branco não surgia da parede
nas portas, não havia losangos de treliça
prateleiras não exibiam panos quadriculadinhos de vermelho e branco
apenas vidro canelado nas janelas
e um refrigerador com tarja de madeira atravessada
sobre a mesa,
um bolo de fubá e biscoitos de polvilho frito
três xícaras
três gerações se encontrariam para tomar café
palavras no sono,
confusas.


*para minha mãe e vó doquinha

1.9.06

gosto de café com leite
e pão doce mergulhado na xícara.


a respeito de las meninas
o homem subindo/descendo as escadas.


eu via aqueles olhos azuis.

25.8.06

O livro de que falei

Não estava longe da mesinha.
Dois passos, teria lhe dado
sem dor, sem ressentimento.
Mas você bateu a porta,
não disse adeus.
Sem esperanças de que retornaria,
dei a outro que aqui esteve.
Este me beijou.
Quarta-feira, Julho 26, 2006*
inferno
Para Glaura


escrito de tempo de dor

Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
che la diritta via era smarrita
Ahi quanto a dir qual era è cosa dura
esta selva selvaggia e aspra e forte
che nel pensier rinova la paura!

Dante

e o arco se dobra e o fio timbra
uma dor profunda
os dedos sangram e o punho vibra em
àsperas veias
um gosto amargo na garganta
o timbre em dó
a garganta em nó
a flecha em rispe
o golpe e o furo
no porcelanato branco do chão
rastos rubros
escorregados

João Lúcio Penharvel

*retirado de confligerante

23.8.06

Podemos escrever sobre qualquer coisa.
O copo de leite em cima da mesa, o guardanapo dobrado em três,
o barulho dos talheres no prato.

Irene deitava de bruços,
com o travesseiro comprimindo a barriga.

19.8.06

*para matias monteiro (o autor da obra)

deparo com objetos que me remetem à infância.
(pátio, cantina, bala macia)
unidos, certa vez, levei um tombo.
a meninada riu, corei.
- irmãos siameses?
"o tempo secou o assunto".














"objetos siameses"
por matias monteiro
foto: daiane souza/UnB agência

12.8.06

O geriatra

*para ricardo garro

o geriatra não escreve.
não se trata de um blog conceitual,
não.
a página é branca
simplesmente porque ele não quer escrever.
e continuará lá, persistindo,
até o dia em que um arqueólogo,
fuçando nos guardados de uma mulher velha,
encontrá um papel que diz:
"ressucitei o blog numa tentativa de parar de falar com o espelho.
(...)
não tem nada lá,
mas um dia vai ter.
dê uma olhada de vez em quando para que eu tenha algum leitor.
reminiscências da L`Argent de Poche,
um abraço".

(mania de arquivos)

11.8.06

O encontro

*para dois amigos que vão morar em Lisboa


Encontrei no bailarico
o meu amor.
Laquê no cabelo, vestido comprido, sorriso no canto da boca.
Eu, Ribão, soltinho pra ela:
“Carol, Carol minha, te dou uma flor."


***


Do amor
o amor que sinto por ti.

8.8.06

Irene Rios

"Ele vai me destruir".
Irene repetia várias vezes, enquanto o leite esquentava no fogão.
Não reparando as bolhas,
como poderia ouvir?


O apelo silencioso:
"Irene, Irene, Irene".

5.8.06

esquina.
estamos num bar da Serra.
na calçada:
mesas amarelas, cadeiras, um ponto de táxi.
do balcão a garçonete diz
bolinho, linguiça, empadinha.
mulheres e homens num entra e sai.
fecho os olhos.
(como se fosse aos 13 anos,
no bar do tio Clóvis, em Água Branca)

tudo igual:
talheres, pratos, pessoas.
se virar para trás, lembrá do avô.

23.7.06

Bárbara

* para edmundo

quando vejo Bárbara
o queixo fica no chão.
- algum amor no passado, algum arrependimento?
não sei.

um cigarro, um copo de cerveja
anéis...

Bárbara está sozinha.
meu coração
não.











bárbara - vandré silveira
filme de carlos gradim
roteiro: glaura cardoso vale
adaptação do conto "e a situação, como é que está?", de edmundo novaes
foto: bianca aun
fonte: www.odeoncompanhiateatral.com.br

10.7.06

o salmão é um peixe muito generoso.
eu
que não como mais carne
sei disso.

30.6.06

Rimini

o vento sopra
a linha do cabelo segue em direção contrária
dedos tocam a nuca numa noite de ventania

assim como um sonho felliniano...
o vento, o mar, o beijo


*para vivi e serginho

28.6.06

LA JETÉE

Vi num filme do Marker:

Orly,
Um homem corre em direção a uma lembrança da infância:
o rosto de uma mulher sorrindo.

Não encontrando caminho possível,
tomba sobre o asfalto.

(Era a própria morte que entrevia)

16.6.06

# da segunda vez que vi o avesso

o muco estava lá, como um pêndulo
da narina até a garganta
a microcâmera viu
o médico constatou não ser um delírio

a imaginação dá voltas.

2.6.06

Tarefa do revisor

Os últimos dias se resumem a dicionários e gramáticas.
(como idéia fixa, obsessiva)
Há quem ache fetiche nisto:
xícara de café, olhos vermelhos, ardor nas costas,
e cu dormente.

25.5.06

minha personagem agora usa óculos.
os olhos:
um fechado, o outro a piscar.
- como máquina de tirar retrato.

16.5.06

tento adivinhar como se arranca uma dor.
não está em mim.
tento.
o problema consiste em...
- onde vai dar este caminho?
- qual caminho?
o pássaro inicia seu vôo.
talvez busque
(no fio de água que engole a montanha)
um possível pouso.


# para amarelo-rubro (poeta dos poetas)

13.5.06

atriz pornô

ele vê playboy. também me excito.
acho aquela imagem igualmente sedutora.
entrar. deitar a imagem.
ele me deseja depilada.
este capricho da civilização.

quero ser
selvagem.

12.5.06

11.5.06

de estar farto (ou) fulo da vida,
resta chorar.
(ou) socar a parede imaginando a cara de alguém.
vidro não é bom.
chorar faz bem. alivia o ódio, que se transforma em raiva
e se torna outra coisa que não os dois.
nem ódio, nem raiva:
desprezo.
desprezo é bom.
– razão dos poetas?

socar a parede,
sangrar sem corte,
mergulhar as mãos em água morna
salgada.

8.5.06

o encontro

na mesa de escrever
as mãos soletram.
unhas postiças (acúleos pungentes),
esmalte, anéis.
ela se prepara para sair.
sai.
se eu não tocar esta imagem:
- morro.









- morre.

28.4.06

Já reparou que se a gente parar para pensar não fala?
De costas para o amante.
(Mas olhava a tarde).
Se aproximou da janela.
– er näherte sich dem Fenster.
Tocou levemente o vidro.
– berührte sanft die Scheibe.
Vem.
Não disse mais nada.


*para joão e ursula.

24.4.06

uma asa dependurada na parede.
submersa, uma escada.
a menina quer voltar.
nada a impede.

# de uma ilustração em diário frágil

23.4.06

Arrebatada


– Você já leu Le ravissement de Lol V. Stein? Repito: Você já seguiu junto comigo Lol V. Stein pelas ruas? Aliás, você já me viu Lola seguindo alguém pelas ruas?
Um homem, num café, disse ter visto. Esquisita, mas discreta.
– Lol.
– Je.
– Lol.
– Je.
“She's mine”, o alguém no balcão.
Não!
“Lol is mine”.



*para blue- white.

30.3.06

Tongue-in-cheek

# para nica – a respeito do seu cotidiano americano-esquizofrênico

Quantas anas cabem dentro da banana…?
Alguns escritores, para suportar o cotidiano, riam de si mesmos adquirindo assim o hábito de uma escrita leve, entenda-se leveza. Isso seria um tipo de ironia refinada, desfrutada por alguns cuja vida muitas vezes era até dramática. O caso de Ferreira Botelho pode ser um bom exemplo.
Algum tempo depois vieram os surrealistas que viram pessoas em objetos, objetos em pessoas e criaram seres que não se metamorfosearam por completo.
Corpo de homem, cabeça de maçã:
o cotidiano substituindo a figura do centauro ou do minotauro.
Mas, aqui, não espere do “mito” o que o mito representa… E me pergunto se Teseu não se lembraria do ditado "one apple a day…”, devorando assim a suculenta e gigantesca cabeça verde de Magritte.
Outro dia, a respeito de Gogol, pensei no nariz a passear pelas ruas.
A função da hipérbole é causar estranhamento: alguém já viu um nariz gigante dando ordens por aí?
Para quem já sonhou ser um e-mail e a dificuldade de baixar um arquivo consistia numa azeitona entalada na garganta, isso de nariz me soa até muito realista.
Não há nada demais…, somente a transformação de brincadeiras e de estórias extraordinárias da infância – ou dessa nossa possibilidade de ver nas nuvens baianas, animais, almofadas, algodão – em algo mais insólito, transposto para um universo igualmente especial. A pedra contém a escultura mas o homem, para constatar, vai lá e dá umas lascadinhas…
Já outros pintam pássaros de pedra voando…
nem pedra, nem pássaro, é tinta sobre tela… o tal poema de que lhe falei.

*Os olhos ficando aguçados na leitura do episódio da banana…

Faço, então, uma inversão, nos moldes da literatura infantil:

a fome era tanta
que,
diante do risco da queixa,
a banana devorou a ana.

29.3.06

# lições de tradução #

os cus de judas
ou
le cul de judas
ou
der judas kuss
ou
de judas kus
ou
in culo al mondo
ou
sarutul lui iuda
ou
hinsides helvete
ou
de forrudda
ou
sjovernes odyssé
ou
hevonkuusessa
ou
south of nowhere…

como vê, quando não tem cu, tem judas, salvo erro de entendimento do sueco, norueguês, dinamarquês.
ando enferrujada.
em inglês, somente a idéia persiste.
isso é o que chamamos de tradução não-literal.

*resta ainda uma outra tradução, de língua eqüidistante:
“saduj ed suc so”. mas a publicação ainda não está prevista, por causa da alta do betelnut.

27.3.06

# final de gripe #

engraçado. estava lá.
entre o útero e a realidade.
ainda sonolenta.
fiz uma poesia sobre este meu estado.
falando de como a percepção fica diferente.
embriaguez sem remédio.
cheguei aqui para escrever.
esqueci.

11.3.06

# kein thema

meu pai sempre escreveu cartas.
um dia, comprou envelope, selo, papel de arroz.
num movimento com os punhos escreveu um poema.
endereçou para si mesmo e postou.
quer prova maior de solidão do que essa?
hoje,
para manter o hotmail ativo,
mando mensagens de outra conta para mim mesma e as respondo em seguida.
estranho movimento com os punhos.
quer prova de vidinha mais medíocre do que esta?

26.2.06

tédio instalado

do lado de fora
uma chuva fina faz deslizar os carros
carnaval sem carnaval
pessoas conversam na calçada
o vigia apita
um homem vestido de polícia sorri para alguém
“o balancê, balancê…”
do lado de dentro
a cama desfeita, almofadas no chão
sobre a mesa: xícara de café, escultura de gueixa, luminária,
pequenos dicionários, um perfume a evaporar
estranha sobriedade

13.2.06

Querida A.R.,
sonhei novamente. Como nesses filmes Norte-americanos… você perseguia eu e a T. e nós corríamos. Muito.
Fugíamos de alguma lembrança?
Do momento… não tenho dúvida.
Do seu trágico destino, restam dores e o sentimento de culpa…
culpa, culpa, culpa…
como as veias pulsam e levam o líquido para o corpo.
Nem o sonho para tornar possível nosso encontro.
Temos medo do que vai dizer. Temos?
Como controlar essas imagens?!
Passaremos então a correr compulsivamente,
da sua dor, do telefonema e do PÁ!
Estamos assim… gente a vagar ruas… sem destino certo. Procurando ver os amigos que não nos querem ver. Não nos querem sentir. Não nos querem ouvir.
Tento pensar em coisas mais práticas. Arredar os móveis, varrer a casa, limpar os livros...
ah! os livros…
O jeito é ser objetivo, percebe?!… o jeito é ser objetivo e só chorar na solidão do banheiro, submersa em água quente, na piscina de plástico…
um salzinho grosso ajuda bem… alivia esse peso do cotidiano nas costas.
As gotas no corpo se misturam às gotas que caem do rosto e o rosto mergulha na água salgada na tentativa de afogar a memória… O cheiro de sangue quente a pingar do colchão, o furo no guarda-roupa e os objetos que se seguiram sem a sua presença.
A cidade continua a mesma.
Helena.

1.2.06

topa gastar um din-din ali?!
esse deveria ser o lema de todos que se atrevem a sair de casa, atravessar a rua e...
um pulinho até a padaria : R$ 16,00…
*quatro pães : R$ 1,72?!!! *manteiga : R$ 2,90
*duas fatias de bolo : R$2,00...
querido, tenho trocado não... um pequeno habitante me olha,
entrecortado.
“nem fudeno que eu quero falá [de literatura]” …
“a vida tem saído muito cara, meu irmão”…
“tem que trabalhá, trabalhá, até o osso”…
“você me aguarde aí, bem sentadinha, que eu preciso ganhá um din-din ali”…

15.1.06

meu cabelo ondula com o vento… ondula?
estou ficando irritada. mesmo sem motivo, sabe.
é como ter o intestino sempre preso. não se presta: pra nada.

12.1.06

se pudessem ouvir da forma que eu ouço…
ver? não,
ver não seria o bastante.
tento dizer, mas parece impossível realizar num texto ou numa imagem esse som…
desculpem a minha incompetência.
fico por aqui a tentar decodificar o indecodificável.