31.1.11

Todas as vezes que o vejo aflito
Uma parte de mim se entristece
Tão sozinho num quarto escuro
Pensando a vida nos olhos dela
Do amor perdido, mas não esquecido
Resta então um sorriso
Assim todos os corpos passeiam no infinito
E quando a noite cair inteira
Busca, meu bem, uma estrela
A esperança de um abrigo

29.1.11

Insônia
O som do ventilador preenche o quarto
Há quanto tempo estou acordada?
O trem acaba de passar
Trazendo carga e pessoas
Seu delírio é minha alegria 
Embala o meu sono
Pedindo a noite que vai virando dia

28.1.11

Hipocondria
 
a garganta coçando
o ar faltando
o rosto parecendo um enxame
é estranho pensar que vai morrer
justo quando 
a garganta coça
o ar falta
e o rosto parece um enxame
o calor é tanto que a gente delira
já não se sabe os sintomas de uma intoxicação
o mundo começa a derreter
o que se espera é uma brisa
ou se refrescar no mar

27.1.11

                                              
Ela é cândida
Seu gosto leve e delicado
Uma pintura traduz seu espírito
Lenço amarrado nos cabelos
Deusa grega tornada sonho
O azul é a cor do mar

















  para Wild Wilde


noite quente
nela tudo dorme
só não dorme o meu amor
que o mar encontrou

noite quente
se um dia o deserto de minha vida
não mais mirar o oceano
que eu busque um sorriso
ao menos um sorriso
e nele desfaça toda a dor

noite quente
nela tudo dorme
só não dorme o seu nome
que o mar levou

26.1.11

Ponta de Lança  #2

                                                
 

O sertão que meu coração habita é por natureza 
Antropofágico
É pra lá que eu quero ir um dia
Entre os vales de mar e pedra
Terra de sol, terra salgada
Quando caminhar por uma trilha e encontrar uma vereda
Molharei os pés na água e cruzando os dedos
Hei-de amar um poeta 

um grande lagarto verde,
com olhos de pedra e água

Do lado de cá 
O sertão é ave rara, olhos de diamante  
Assim como os dos poetas
A devorarem parte da alma 

um atropelo de sinos processionais
no silêncio
lá fora tudo volta
à espetaculosa tranquilidade de Minas



24.1.11

Ponta de Lança  #1

Em outubro de 1954 morre
Oswald de Andrade
Passados mais de meio século, alguns ainda buscam o que seja um movimento de arte revolucionária
Um ideário estético engajado
Poetas desconfiados de si mesmos, insatisfeitos (Mário)
Há poeta satisfeito?
Passados mais de meio século, leio cartas dos modernistas aos seus companheiros
Na mesa o perfume Tarsila
Presente de 12 anos para minha sobrinha
Era para ir junto uma carta, um livro com gravuras, uma poesia
A tentativa de restituir um tempo que nem eu mesma vivi
Tarsila
é um perfume cítrico
Oswald reivindica na estante a não dependência da Europa européia
Da qual "nada podemos esperar"
A atenção voltada à América Latina
Que nos deu Neruda e Guillen
Hoje simplesmente flertamos
Seja qual for o continente, a ética ou estética
E não nos abismamos
Todo o mundo é que nos devora
 
Seu passado, o meu 
O frescor das laranjeiras  

 

23.1.11

na minha casa os gerânios crescem durante o dia
enquanto o seu sorriso atravessa as manhãs
e se instala no coração quando a noite se aproxima
colho os gerânios para a mesa do jantar
você vem e afaga o meu corpo
sentindo a vida pulsar no ventre

21.1.11

FLORBELA # 2

de tanto sonhar que dormia
um dia ela dormiu
mas deixou versos impagáveis
para que continuássemos sonhando 

Florbela,
é tão cedo morrer na sua idade?

19.1.11

busquei o amor e encontrei o mar
e o coração bateu como da primeira vez
há quem um dia compreenderá este sentimento
há quem leia Llansol e não encontre Pessoa
há quem pense que amar é fugir de si mesmo
há quem deseje simplesmente um lugar entre as montanhas
onde possa voltar


seu sorriso pela manhã é imensurável
meu corpo inteiro procura o seu todos os dias
mas você é ave rara
que voa sem destino
cortando o infinito

18.1.11

a saudade é tanta
que às vezes o coração repete 
e inverte o som do mar

8.1.11

FLORBELA #1




















Não sou eu, nem você, nem ela
Mas a força que vem de um lugar 
Não aquém, nem além
Apenas um lugar onde se possa lembrar 
Em cinza escrevo seu nome
A língua roçando o céu da sua boca

3.1.11

os poemas encontram um nome

quem é você
que meu corpo e alma possui
e dentro de mim transforma
sentimentos jamais compreendidos?

diz, você,
que tudo controla e conduz,
sobre meus pulsos envolvidos pelas suas mãos
sobre meus dedos a tocarem sua face lânguida

venha abrir a porta
e sentir o hálito da manhã
o vento a sussurrar palavras de amor
acariciando a pele

deita sobre mim nesta noite
tome o meu corpo como seu
hoje e sempre
buscando o sorriso rompendo a madrugada


 

2.1.11

Amigo amante 

o poeta esconde algumas referências não por descuido 
fingindo ignorá-las
sua escrita se instala nos porões da alma
foi assim mas nem sempre

que o poeta possa ser livre
para não mais esconder o que sente