29.11.05

*PLIN! not found

o que teria acontecido com o dicção aleatória?

***
REGISTROS RECUPERADOS:

AGOSTO 20
para lembrar de helena
se olhar à sua volta perceberá elementos desta intenção de poesia
passará a mão pela mesa e sentirá uma poeirinha fina
descaso com os afazeres domésticos
no alto,
três prateleiras abarrotadas de livros
na mesinha ao lado
agenda de telefone, calculadora, CDs...
apostilas e a carta
que diz:
Querido Greco,
não estou mais em mim
agora só desejo pegar aquele avião
partir pra África
encontrar o amor que se perdeu na guerra
e que não voltou com os outros em 1975.
Cuide-se,
Helena.


AGOSTO 4
Queria postar um texto aqui...
Mas os dedos estão a sangrar.

JULHO 31
O dia em que conheci um escritor em NY
Entrei num café da East Village fugindo da chuva. Nunca havia estado ali antes. Fiquei deslumbrada. Observava tudo e todos. O mostrador de vidro e seus inúmeros produtos. Aquilo era quase uma instalação, só que aqui os objetos se movimentavam entre uma conta e outra,
nunca a mesma vitrine.
Sempre havia um cliente ansioso por um cubano ou um canivete quebra-galho. Admirava também os tecidos. As roupas oscilavam entre o vermelho, o marrom lavado e o bege.
No caixa, uma mulher solitária e seu avental cor de folha seca.
Era quase verão. Ventava muito. Pessoas entrando e saindo do café. Mesas lotadas. Tive que me contentar com o balcão: a cup of coffe, please!?.
Foi aí que o vi.
Um sorrisinho no canto da boca, denúncia de um certo nervosismo, olhar atravessado.
Pensei em timidez.
Não parecia estar animado para o lanche, alguma coisa havia acontecido com ele naquela tarde?
Sonorizava.
Cabelo grisalho. Blusa de lã preta, gola até o queixo. Casaco de couro no encosto da cadeira. Uma caderneta de telefone.
A minha vida estava se perdendo. Eu já acreditava no amor. Em que meu devaneio consistia?
Aquela talvez fosse a única hora para eu me aproximar e dizer: you are a...
Esqueci o café e passei para o copo de conhaque do senhor de blue jeans...
Num impulso,
a gente tinha tudo para dar certo.
Mandei bilhete? Entrei numa briga desgraçada com o garçom porque ele me disse que aquilo não era hábito da casa e eu tentei explicar que eu conhecia o John, fosse esse o nome dele. E que a gente sempre iniciava nossos encontros numa troca de bilhetes. Uma brincadeirinha de amigos apaixonados. O garçom disse lá que eu me enganara, aquele não era o John e eu deveria me conformar com isso. Mas como não era?!... Aquele que eu conheci há dias na Barnes & Noble?! Que conversei horas no trem... não era o Johnny?! Não, John ele não poderia ser, repetiu o garçom. Este dái é... e falou horas, explicou, re-explicou...
O garçom me convenceu a deixar a idéia do bilhete... não perturbaria um grande escritor da cidade... que levaria New Jersey para o topo do mercado editorial, seria o então mais traduzido do mundo... e ainda me disse que ele era excêntrico, várias mulheres insanas já haviam mandado bilhetes e que deixava de freqüentar os lugares por isso, blá blá blá...
Concordei... John não poderia ser mesmo escritor, e, pra ser franca, não se parecia com Paul Auster...

DITO POR NÃO DITO POR GLAURA

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