13.2.06

Querida A.R.,
sonhei novamente. Como nesses filmes Norte-americanos… você perseguia eu e a T. e nós corríamos. Muito.
Fugíamos de alguma lembrança?
Do momento… não tenho dúvida.
Do seu trágico destino, restam dores e o sentimento de culpa…
culpa, culpa, culpa…
como as veias pulsam e levam o líquido para o corpo.
Nem o sonho para tornar possível nosso encontro.
Temos medo do que vai dizer. Temos?
Como controlar essas imagens?!
Passaremos então a correr compulsivamente,
da sua dor, do telefonema e do PÁ!
Estamos assim… gente a vagar ruas… sem destino certo. Procurando ver os amigos que não nos querem ver. Não nos querem sentir. Não nos querem ouvir.
Tento pensar em coisas mais práticas. Arredar os móveis, varrer a casa, limpar os livros...
ah! os livros…
O jeito é ser objetivo, percebe?!… o jeito é ser objetivo e só chorar na solidão do banheiro, submersa em água quente, na piscina de plástico…
um salzinho grosso ajuda bem… alivia esse peso do cotidiano nas costas.
As gotas no corpo se misturam às gotas que caem do rosto e o rosto mergulha na água salgada na tentativa de afogar a memória… O cheiro de sangue quente a pingar do colchão, o furo no guarda-roupa e os objetos que se seguiram sem a sua presença.
A cidade continua a mesma.
Helena.