16.2.07

Da máquina de fitar

Aprendi (bem ou mal) duas coisas a respeito da literatura:
não confiar na voz do narrador, duas vezes menos na voz do autor.
Discordância e ambiguidade valorizam o diálogo?
A intriga parece ser mais sutil que isso.

"Desculpar-se é ato generoso". A voz de um dos clássicos.
"Se lhe pedir desculpas, ainda assim continuarei a mentir". A mulher que chega no balcão.
"Pedindo desculpas não serei mais o que pareço. Passemos a régua. Estou cansado". Um poeta moderno.
(Ele pede uma xícara de café.
Tem os olhos fixos e tristes.
Já não consegue ver generosidade em nada,
mas se encanta com a jovem que passa.
Ela não o repara.
Anda meio sem jeito.
Tem os dedos firmes na carteira.
Pede fósforos)

Evito anotações.
Não há nada demais,
apenas um gato arranhando o vidro da janela.
Do quarto, poderia escrever até os dedos sangrarem.
Ainda ouço a voz da mulher solfejando.
Ela era como um anjo.

(um romance por fazer, rascunhos - 2004)

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