19.4.14

Havia visto apenas um trecho de "Juventude" (1951), do Bergman, assistido hoje na Mostra dedicada ao diretor no Cine Humberto Mauro. Sempre que pensava em Bergman, vinha uma atmosfera estanha, ligada ao silêncio e ao invisível da morte. Alguns detalhes me chamavam a atenção: a presença dos relógios, a caixa de costura e a reincidência do gesto de coser uma peça de roupa ou pregar um botão, assoalhos de madeira que rangem um som defunto, rostos recortados, bocas silenciosas e a se silenciarem, poucas lágrimas... Recentemente, alguns filmes me trouxeram com mais intensidade o mar, o céu, o vento, o canto dos pássaros... a luz refletida na água como purpurina. Também: as carruagens de circo e a decadência de uma arte em vias de desaparecer, o Bergman dos comerciais de TV, do documentário, a câmera voltada para os bastidores das filmagens, para o retrato da mãe, para os primeiros passos do seu filho Daniel. 

O trecho que um amigo havia me mostrado corresponde ao momento em que Maria e Henrik começam a desenhar sobre a capa de um disquinho e os desenhos ganham vida, possível homenagem ao cinema de animação, compondo um pequeno teatrinho que narra a história desse jovem casal. Embora tenha me emocionado em vários de seus filmes, não me recordo de ter os olhos cheios de água como hoje, depois do salto de Henrik. Para Godard, “o filme mais bonito de Bergman”. De arrebatar, sem dúvida. Talvez porque "o desenho não é a forma, é a maneira de ver a forma". Resta uma aproximação entre duas imagens que já deve ter sido feita por algum estudioso do seu cinema: a bailarina de Degas e Maria de Bergman, em “Juventude”.

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