23.7.06

Bárbara

* para edmundo

quando vejo Bárbara
o queixo fica no chão.
- algum amor no passado, algum arrependimento?
não sei.

um cigarro, um copo de cerveja
anéis...

Bárbara está sozinha.
meu coração
não.











bárbara - vandré silveira
filme de carlos gradim
roteiro: glaura cardoso vale
adaptação do conto "e a situação, como é que está?", de edmundo novaes
foto: bianca aun
fonte: www.odeoncompanhiateatral.com.br

10.7.06

o salmão é um peixe muito generoso.
eu
que não como mais carne
sei disso.

30.6.06

Rimini

o vento sopra
a linha do cabelo segue em direção contrária
dedos tocam a nuca numa noite de ventania

assim como um sonho felliniano...
o vento, o mar, o beijo


*para vivi e serginho

28.6.06

LA JETÉE

Vi num filme do Marker:

Orly,
Um homem corre em direção a uma lembrança da infância:
o rosto de uma mulher sorrindo.

Não encontrando caminho possível,
tomba sobre o asfalto.

(Era a própria morte que entrevia)

16.6.06

# da segunda vez que vi o avesso

o muco estava lá, como um pêndulo
da narina até a garganta
a microcâmera viu
o médico constatou não ser um delírio

a imaginação dá voltas.

2.6.06

Tarefa do revisor

Os últimos dias se resumem a dicionários e gramáticas.
(como idéia fixa, obsessiva)
Há quem ache fetiche nisto:
xícara de café, olhos vermelhos, ardor nas costas,
e cu dormente.

25.5.06

minha personagem agora usa óculos.
os olhos:
um fechado, o outro a piscar.
- como máquina de tirar retrato.

16.5.06

tento adivinhar como se arranca uma dor.
não está em mim.
tento.
o problema consiste em...
- onde vai dar este caminho?
- qual caminho?
o pássaro inicia seu vôo.
talvez busque
(no fio de água que engole a montanha)
um possível pouso.


# para amarelo-rubro (poeta dos poetas)

13.5.06

atriz pornô

ele vê playboy. também me excito.
acho aquela imagem igualmente sedutora.
entrar. deitar a imagem.
ele me deseja depilada.
este capricho da civilização.

quero ser
selvagem.

12.5.06

11.5.06

de estar farto (ou) fulo da vida,
resta chorar.
(ou) socar a parede imaginando a cara de alguém.
vidro não é bom.
chorar faz bem. alivia o ódio, que se transforma em raiva
e se torna outra coisa que não os dois.
nem ódio, nem raiva:
desprezo.
desprezo é bom.
– razão dos poetas?

socar a parede,
sangrar sem corte,
mergulhar as mãos em água morna
salgada.

8.5.06

o encontro

na mesa de escrever
as mãos soletram.
unhas postiças (acúleos pungentes),
esmalte, anéis.
ela se prepara para sair.
sai.
se eu não tocar esta imagem:
- morro.









- morre.

28.4.06

Já reparou que se a gente parar para pensar não fala?
De costas para o amante.
(Mas olhava a tarde).
Se aproximou da janela.
– er näherte sich dem Fenster.
Tocou levemente o vidro.
– berührte sanft die Scheibe.
Vem.
Não disse mais nada.


*para joão e ursula.

24.4.06

uma asa dependurada na parede.
submersa, uma escada.
a menina quer voltar.
nada a impede.

# de uma ilustração em diário frágil

23.4.06

Arrebatada


– Você já leu Le ravissement de Lol V. Stein? Repito: Você já seguiu junto comigo Lol V. Stein pelas ruas? Aliás, você já me viu Lola seguindo alguém pelas ruas?
Um homem, num café, disse ter visto. Esquisita, mas discreta.
– Lol.
– Je.
– Lol.
– Je.
“She's mine”, o alguém no balcão.
Não!
“Lol is mine”.



*para blue- white.

30.3.06

Tongue-in-cheek

# para nica – a respeito do seu cotidiano americano-esquizofrênico

Quantas anas cabem dentro da banana…?
Alguns escritores, para suportar o cotidiano, riam de si mesmos adquirindo assim o hábito de uma escrita leve, entenda-se leveza. Isso seria um tipo de ironia refinada, desfrutada por alguns cuja vida muitas vezes era até dramática. O caso de Ferreira Botelho pode ser um bom exemplo.
Algum tempo depois vieram os surrealistas que viram pessoas em objetos, objetos em pessoas e criaram seres que não se metamorfosearam por completo.
Corpo de homem, cabeça de maçã:
o cotidiano substituindo a figura do centauro ou do minotauro.
Mas, aqui, não espere do “mito” o que o mito representa… E me pergunto se Teseu não se lembraria do ditado "one apple a day…”, devorando assim a suculenta e gigantesca cabeça verde de Magritte.
Outro dia, a respeito de Gogol, pensei no nariz a passear pelas ruas.
A função da hipérbole é causar estranhamento: alguém já viu um nariz gigante dando ordens por aí?
Para quem já sonhou ser um e-mail e a dificuldade de baixar um arquivo consistia numa azeitona entalada na garganta, isso de nariz me soa até muito realista.
Não há nada demais…, somente a transformação de brincadeiras e de estórias extraordinárias da infância – ou dessa nossa possibilidade de ver nas nuvens baianas, animais, almofadas, algodão – em algo mais insólito, transposto para um universo igualmente especial. A pedra contém a escultura mas o homem, para constatar, vai lá e dá umas lascadinhas…
Já outros pintam pássaros de pedra voando…
nem pedra, nem pássaro, é tinta sobre tela… o tal poema de que lhe falei.

*Os olhos ficando aguçados na leitura do episódio da banana…

Faço, então, uma inversão, nos moldes da literatura infantil:

a fome era tanta
que,
diante do risco da queixa,
a banana devorou a ana.

29.3.06

# lições de tradução #

os cus de judas
ou
le cul de judas
ou
der judas kuss
ou
de judas kus
ou
in culo al mondo
ou
sarutul lui iuda
ou
hinsides helvete
ou
de forrudda
ou
sjovernes odyssé
ou
hevonkuusessa
ou
south of nowhere…

como vê, quando não tem cu, tem judas, salvo erro de entendimento do sueco, norueguês, dinamarquês.
ando enferrujada.
em inglês, somente a idéia persiste.
isso é o que chamamos de tradução não-literal.

*resta ainda uma outra tradução, de língua eqüidistante:
“saduj ed suc so”. mas a publicação ainda não está prevista, por causa da alta do betelnut.

27.3.06

# final de gripe #

engraçado. estava lá.
entre o útero e a realidade.
ainda sonolenta.
fiz uma poesia sobre este meu estado.
falando de como a percepção fica diferente.
embriaguez sem remédio.
cheguei aqui para escrever.
esqueci.

11.3.06

# kein thema

meu pai sempre escreveu cartas.
um dia, comprou envelope, selo, papel de arroz.
num movimento com os punhos escreveu um poema.
endereçou para si mesmo e postou.
quer prova maior de solidão do que essa?
hoje,
para manter o hotmail ativo,
mando mensagens de outra conta para mim mesma e as respondo em seguida.
estranho movimento com os punhos.
quer prova de vidinha mais medíocre do que esta?

26.2.06

tédio instalado

do lado de fora
uma chuva fina faz deslizar os carros
carnaval sem carnaval
pessoas conversam na calçada
o vigia apita
um homem vestido de polícia sorri para alguém
“o balancê, balancê…”
do lado de dentro
a cama desfeita, almofadas no chão
sobre a mesa: xícara de café, escultura de gueixa, luminária,
pequenos dicionários, um perfume a evaporar
estranha sobriedade

13.2.06

Querida A.R.,
sonhei novamente. Como nesses filmes Norte-americanos… você perseguia eu e a T. e nós corríamos. Muito.
Fugíamos de alguma lembrança?
Do momento… não tenho dúvida.
Do seu trágico destino, restam dores e o sentimento de culpa…
culpa, culpa, culpa…
como as veias pulsam e levam o líquido para o corpo.
Nem o sonho para tornar possível nosso encontro.
Temos medo do que vai dizer. Temos?
Como controlar essas imagens?!
Passaremos então a correr compulsivamente,
da sua dor, do telefonema e do PÁ!
Estamos assim… gente a vagar ruas… sem destino certo. Procurando ver os amigos que não nos querem ver. Não nos querem sentir. Não nos querem ouvir.
Tento pensar em coisas mais práticas. Arredar os móveis, varrer a casa, limpar os livros...
ah! os livros…
O jeito é ser objetivo, percebe?!… o jeito é ser objetivo e só chorar na solidão do banheiro, submersa em água quente, na piscina de plástico…
um salzinho grosso ajuda bem… alivia esse peso do cotidiano nas costas.
As gotas no corpo se misturam às gotas que caem do rosto e o rosto mergulha na água salgada na tentativa de afogar a memória… O cheiro de sangue quente a pingar do colchão, o furo no guarda-roupa e os objetos que se seguiram sem a sua presença.
A cidade continua a mesma.
Helena.

1.2.06

topa gastar um din-din ali?!
esse deveria ser o lema de todos que se atrevem a sair de casa, atravessar a rua e...
um pulinho até a padaria : R$ 16,00…
*quatro pães : R$ 1,72?!!! *manteiga : R$ 2,90
*duas fatias de bolo : R$2,00...
querido, tenho trocado não... um pequeno habitante me olha,
entrecortado.
“nem fudeno que eu quero falá [de literatura]” …
“a vida tem saído muito cara, meu irmão”…
“tem que trabalhá, trabalhá, até o osso”…
“você me aguarde aí, bem sentadinha, que eu preciso ganhá um din-din ali”…

15.1.06

meu cabelo ondula com o vento… ondula?
estou ficando irritada. mesmo sem motivo, sabe.
é como ter o intestino sempre preso. não se presta: pra nada.

12.1.06

se pudessem ouvir da forma que eu ouço…
ver? não,
ver não seria o bastante.
tento dizer, mas parece impossível realizar num texto ou numa imagem esse som…
desculpem a minha incompetência.
fico por aqui a tentar decodificar o indecodificável.

27.12.05

Ava Gardner

Ava cheia de graça
Abriu a bolsa
Exibiu seus penduricalhos:
colar, brincos, pulseiras.
Pegou a careteira e foi pagar a conta.


22.12.05

scrapbook

aviso aos navegantes:
aqui é um lugar sem memória. deixar um recado é sempre um risco.










foto: carla maia (kk)

2.12.05

EQUIPE

domingo


água, café:


pessoas


pessoas


pessoas


pessoas confabulando


um antropólogo:


le chat:



a mulher:


patrya yndya yracema do brasyl



a noite segue...


nós! os etnográficos:


os deuses devem estar loucos


3 da manhã




solar


segunda-feira...


JUPIRA!!!


foto de pessoas: carla maia
foto de copos, garrafas e pizzas: glaura c. vale
foto P&B: francilins castilho leal
ilustração: postal canadense

30.11.05

29.11.05

*PLIN! not found

o que teria acontecido com o dicção aleatória?

***
REGISTROS RECUPERADOS:

AGOSTO 20
para lembrar de helena
se olhar à sua volta perceberá elementos desta intenção de poesia
passará a mão pela mesa e sentirá uma poeirinha fina
descaso com os afazeres domésticos
no alto,
três prateleiras abarrotadas de livros
na mesinha ao lado
agenda de telefone, calculadora, CDs...
apostilas e a carta
que diz:
Querido Greco,
não estou mais em mim
agora só desejo pegar aquele avião
partir pra África
encontrar o amor que se perdeu na guerra
e que não voltou com os outros em 1975.
Cuide-se,
Helena.


AGOSTO 4
Queria postar um texto aqui...
Mas os dedos estão a sangrar.

JULHO 31
O dia em que conheci um escritor em NY
Entrei num café da East Village fugindo da chuva. Nunca havia estado ali antes. Fiquei deslumbrada. Observava tudo e todos. O mostrador de vidro e seus inúmeros produtos. Aquilo era quase uma instalação, só que aqui os objetos se movimentavam entre uma conta e outra,
nunca a mesma vitrine.
Sempre havia um cliente ansioso por um cubano ou um canivete quebra-galho. Admirava também os tecidos. As roupas oscilavam entre o vermelho, o marrom lavado e o bege.
No caixa, uma mulher solitária e seu avental cor de folha seca.
Era quase verão. Ventava muito. Pessoas entrando e saindo do café. Mesas lotadas. Tive que me contentar com o balcão: a cup of coffe, please!?.
Foi aí que o vi.
Um sorrisinho no canto da boca, denúncia de um certo nervosismo, olhar atravessado.
Pensei em timidez.
Não parecia estar animado para o lanche, alguma coisa havia acontecido com ele naquela tarde?
Sonorizava.
Cabelo grisalho. Blusa de lã preta, gola até o queixo. Casaco de couro no encosto da cadeira. Uma caderneta de telefone.
A minha vida estava se perdendo. Eu já acreditava no amor. Em que meu devaneio consistia?
Aquela talvez fosse a única hora para eu me aproximar e dizer: you are a...
Esqueci o café e passei para o copo de conhaque do senhor de blue jeans...
Num impulso,
a gente tinha tudo para dar certo.
Mandei bilhete? Entrei numa briga desgraçada com o garçom porque ele me disse que aquilo não era hábito da casa e eu tentei explicar que eu conhecia o John, fosse esse o nome dele. E que a gente sempre iniciava nossos encontros numa troca de bilhetes. Uma brincadeirinha de amigos apaixonados. O garçom disse lá que eu me enganara, aquele não era o John e eu deveria me conformar com isso. Mas como não era?!... Aquele que eu conheci há dias na Barnes & Noble?! Que conversei horas no trem... não era o Johnny?! Não, John ele não poderia ser, repetiu o garçom. Este dái é... e falou horas, explicou, re-explicou...
O garçom me convenceu a deixar a idéia do bilhete... não perturbaria um grande escritor da cidade... que levaria New Jersey para o topo do mercado editorial, seria o então mais traduzido do mundo... e ainda me disse que ele era excêntrico, várias mulheres insanas já haviam mandado bilhetes e que deixava de freqüentar os lugares por isso, blá blá blá...
Concordei... John não poderia ser mesmo escritor, e, pra ser franca, não se parecia com Paul Auster...

DITO POR NÃO DITO POR GLAURA

26.11.05

john, me diga:
chuva fina + jazz. copo de cerveja e cigarro.
olhos contorcidos.
dedilho o ar. gargalhadas.
paixão melancólica?
possível esquecimento.

helena.

24.11.05

The problem is all inside your head, she said to me
The answer is easy if you take it logically
I’d like to help you in your struggle to be free
There must be fifty ways to leave your lover

She said it’s really not my habit to intrude
Furthermore, I hope my meaning won’t be lost or misconstrued
But I’ll repeat myself at the risk of being crude
There must be fifty ways to leave your lover
Fifty ways to leave your lover

Just slip out the back, jack
Make a new plan, stan
You don’t need to be coy, roy
Just get yourself free
Hop on the bus, gus
You don’t need to discuss much
Just drop off the key, lee
And get yourself free

She said it grieves me so to see you in such pain
I wish there was something I could do to make you smile again
I said I appreciate that and would you please explain
About the fifty ways

She said why don’t we both just sleep on it tonight
And I believe in the morning you’ll begin to see the light
And then she kissed me and I realized she probably was right
There must be fifty ways to leave your lover
Fifty ways to leave your lover

Just slip out the back, jack
Make a new plan, stan ...

*50 ways to leave your lover, by paul simon.

9.10.05

seqüência #4 *para pedrães





noite de sábado quente e melancólica
ela se aproxima da janela
toca a persiana
não vê os siameses da vizinha
*deitados no piso da área de serviço,
a se deliciarem com o geladinho da cerâmica.
não estando triste,
abre o porão
de onde saem lembranças fabulosas:
um amor antigo
um sorriso no canto esquerdo,
debussy, bellabartoc, matmos...
muitos cds ainda restam para escutar
até que a noite se transforme em sono
e o sono traga a manhã seguinte.


como a felicidade me faz bem...
assim,
helena.



7.10.05




lote de idéias
foto: maurício leonardi

talvez eu devesse entrar na internet e pesquisar por que a falta de potássio causa tanta dor nas pernas.
(a esta hora não me parece tão lenta)
se eu vomitasse toda a cerveja que acabo de tomar não sentiria tão forte,
absurdamente forte,
esta dor na boca do estômago.
às vezes me sinto meio zonza,
a procurar um lugar quentinho...
quero deitar e dormir
até acordar.

6.10.05

notre dame # ainda helena

gosto do meu headphone
a idéia de compartilhar a voz que me invade soa estranho.
como se qualquer um pudesse também ouvir o que se passa na minha mente.
*às vezes é bom
ter a sensação deste som
doce e agressivo
quebrar a parede alheia, silenciar um coração atrapalhado.

eu, você
(at the moment)

4.10.05

this is not a funny story
*para meu pai

achei, entre a papelada que ainda resta no meu antigo quarto, um pedaço de madeira escrito:
“minha filha, nunca abra a caixa de pandora. a minha foi aberta e de lá saíram monstros e fantasmas que até hoje me atormentam”.
diria que meu pai é um poeta que teve a carreira amputada; talvez pela perda do irmão ainda jovem, morto estupidamente porque teve medo de ser preso e correu. “M. A. C. V., 20 anos, levou um tiro pelas costas por causa de um bocado de maconha no bolso. chegando em casa, depois de um dia de trabalho, a mãe do jovem deparou com um camburão à sua porta e, dentro, o corpo do caçula”. não foi assim que saiu no noticiário.
não sei se exatamente, mas acredito que seja esse o momento em que, para meu pai, a caixa de pandora tenha sido aberta. não fora por curiosidade que os fantasmas se afloraram, mas por um golpe, que desencadeou uma série de anomalias que não permitiram o distanciamento necessário para uma poesia consciente.
será preciso gerações para que essa história seja passada a limpo. quanto ao poeta, que se manteve guardado todos esses anos, continuará recluso, até ser completamente esquecido.

– ainda resta a teimosa esperança! – um aspirante a escritor gritou do fundo da sala.

2.10.05

tento escrever para helena
e não passa de uma página. (concisão)

essa história está me consumindo,
aos poucos.
penso na raposa albina (versão de matias)
que toca a calda no grande lago.
deitada,
olha para a luz do sol que incide sobre o cacho de uvas.

espera demorada

23.9.05

entrou do outro lado.
e neste instante a porta de vidro fechou,
bem na sua frente.
fingiu ser eu mesma.
calou-se.
calei-me.
era noite de quinta-feira...
galeria central do museu del bairro.

16.9.05

*notícias da serra: mais nuvens se aproximando

deveríamos trocar o nome da chuva que caiu em BH na semana passada para chuva de granito!
tal o tamanho dos granizos que despencaram do céu e o estrago provocado.
houve um que, por não enxergar nada, tirou a cabeça para fora da janela do carro e acordou com galos horr(or)endos na testa.
outros, da banda de cá, receberam as primeiras pedradas fatais...
vidros pelos ares!!!
como tenho tendência ao medo, olho pro céu toda vez que resolvo sair,
para ver se há ameaça de pedras.
por isso senhores, volto a dizer:
se houver ameaça de chuva, preparem seus capacetes.

14.9.05

e-mail muitíssimo pessoal
*aberto aos ouvintes

nica, a bailarina de azul a desfilar em terras geladas.
o pão de mel a aguarda na mesa do café.
ela sonha pastorar em terras distantes.
agora nica dorme. sono leve, gostoso.
do lado dela um homem encantador.
asas de borboleta... a fazer cosquinha na bochecha.
falamos por recados eletrônicos,
como se estivéssemos grudadas,
lado a lado, frente a frente.
ler nica, é ouvir sua voz:
mansinha e quentinha roçar nos ouvidos.
hummm...
os olhos enchem de água,
mas é bom... fica bem aí.
beijo.

13.9.05

ainda helena

ela queria dormir. ele andando pela casa com suas botinhas de couro legítimo (tuck tuck tuck).
ela, desejo de voltar aos sonhos, onde repousava no ombro de orfeu.
ele continua a andar pela casa com seu radinho de pilha que zune como abelhas no mel.
ela soluça uma felicidade.
Ele, nos seus trejeitos práticos, procura relógio, carteira, celular.
ela levanta, passa os dedos sobre a superfície irregular do móvel de antiquário, toma café.
ele, silêncio.
Crocodilos amarelos não existem! Repetia Carmem.
E se eu jogar uma balde de tinta neles? Replicou Su, a olhar no quintal dois calangos se amarem.

11.9.05

frostypara matias e ribão (o poeta novilúvio)

aonde encontrar Björk?
essa voz doce...
que mistura infância e melancolia.
estaria Björk ancorada em algum mar gelado
no Pólo Norte?
sensação de frio na espinha
arrepiar da pele

the mystery of my flesh
são basicamente dois sons que invadem a porta e quebram o vidro da janela

*sun in my mouth

8.9.05















deitada no ombro de Fernanda
uma máscara
a vizinha solicita da família Drummond
*por Nelson Rodrigues ("senhora dos afogados")

7.9.05

chove pedra lá fora
gelos saltitam na janela do quarto
dois vidros se partiram.
na sala,
uma poça d’água
*baldes e panelas espalhados pela casa

(tempestade em céu azul)

3.9.05

poeirinha ordinária que envolve meus objetos e embaça a tela do meu computador
duas linhas de ônibus passam em frente à janela do escritório
(tro)cent(r)os carros
embaralham meus ouvidos

2.9.05

pausa para ver a Internet…
sem escrever longos textos

queima de sanidade.
perder é o mesmo que deixar de ganhar?

não não, não me diga.
aguarde um terceiro momento.
* extraído do livro achado no corredor de uma gaveta.

28.8.05

uma mulher se perde na floresta
acaba de ver o marido na prisão
estamos no final do século XIX
já havia batedores de carteira
*uma bisneta lê diários esquecidos no sótão.

26.8.05

a retirada dos remédios causa um pouco de ansiedade
igual forçar o sono, rolar de um lado a outro,
sem conseguir retorno
dá coceira nos ossos...
lembrei dos meus discos
esse equilíbrio estranho
sensação de ser som, imagens...
é verdade que meu discman completa 10 anos
segue pulando faixas quando está irritado
mas ainda me acalma
dessa ligeira ansiedade
e seus picos zunindo
(like a badhead in the morning)
visão embaçada
os remédios e sua rotina

24.8.05

querida A. R.,
hoje completa um ano.
desci no centro e comprei entradas para uma peça de teatro (Antígona).
saindo do Palácio das Artes quis entrar no Parque Municipal. de fora da grade me pareceu um lugar tranqüilo para dedicar um minuto a você.
me enganei.
definitivamente não somos cosmopolitas... e de enxeridos ficamos olhando os outros: suas roupas, feições etc.
nem disfarçadamente,
queremos devorar o outro antes que ele nos devore.
ninguém suporta a solidão alheia e logo metem o olho intimidativo.
tentei perceber os patos que correm sobre as águas verdes do lago central...
mas um desejo incontrolado de fugir daquelas pessoas me fez desistir do gesto...
caminhei depressa pela rampa em S e antes de atingir a estrada principal:
uma linda gata branca sai de dentro das árvores...
não vejo muitos gatos soltos na rua ultimamente,
somente os gatos da vizinha do prédio ao lado
(que ficam tomando sol na janela ao final da tarde)
talvez o número de cercas elétricas esteja impedindo os gatos urbanos de circularem entre quintais, ruas e passeios.
mas a gata branca me trouxe você...
era realmente linda
tinha o olhar imperativo, como o seu...
desfilava como uma dama em seu casaco de pele legítimo...
igual ao dia em que me pegou de madrugada em casa e me levou ao hospital,
nunca esquecerei desse dia... seria a última pessoa que eu teria visto se morresse na emergência do Semper, que fica em frente a uma das entradas do parque.
não fui a última pessoa a lhe ver...

20.8.05

atendendo a pedidos #2

cena 1: ensaio melodramático
ela desliga o computador e inicia uma correria pelos cômodos da casa.
(...)
“aonde está a fotografia cinza?”
- perdeu-se do álbum.
alguém, alguém...
você?!
*no sótão...

cena 2: a queda
sobe as escadas,
tropeça
descobre um fundo falso no último degrau
passagem para uma dimensão que não existe
a chave do sótão está perdida em algum lugar desse vão...
se encoraja e pula
não é bem o que lhe parecia...
cai no porão.

cena 3: uma luz
o porão não está vazio
ela endireita o corpo
percebe um baú no centro,
abre...
não só uma... várias fotografias...
papéis e alguns carimbos (?).
não sei se lhe parece distante
eu estar ao pé da cama, fazendo a unha.
esmalte de tom café...
*blusa de listras cor de rosa, cabelo amarrado
a queda,
um corte
era dia de feira
sangrava.
agora, o queixo com esparadrapo,
você preparando sopa
a mesa posta
o queixo
pingava
mercúrio cromo (como me soa estranho)

*a memória da cicatriz

19.8.05

17.8.05

Onde estão vocês?
Ninguém (aí) para entender esta louca desvairada
de amor?!
Caramba!
Me perco na melodia...

14.8.05

quero todas aquelas imagens
de matias a eassis
esses seres submersos
que constroem poéticas (do vazio)
colam: cartier-bresson, cocteau, bergman
silêncio que habita
*saudades de novilúvio
outros dois seguirão para o norte
onde a neve é mais que intenção
somente todas aquelas imagens para interpretarem o som que invade a minha melancolia
um jazz para os etnográficos errantes

(e o ronaldo a nacar
nos meus livros)
domingo

acordar tarde,
visitar a família.
pé de pato, piscina...
churrasco, arroz branco, farofa
cerveja
falação
cocada branca, cocada preta
a cabeça que rodopia
cafezinho...

(estômagos estragados)

7.8.05

O marido ri na sala.
Ela tenta se concentrar no texto que precisa entregar até o final da próxima semana.
O marido dá uma gargalhada.
Ela
inveja.
O marido salta da cadeira.
Ela tenta entender como o autor constrói aquela narrativa oscilante.
De repente está na guerra colonial de Angola, lutando por uma causa que desconhece... a defender seu país sem ter sequer tido a chance de escolher se queria estar ali.
uma perna pelos ares cai ao seu lado...

podia jurar que era um tronco de árvore a sangrar...
A perna do soldado a faz lembrar da caixa de brinquedos.
Dos pedaços de bonecas. Dos olhos vazados da Guigui que insistia naquele sorriso de covinhas, da cabeça amassada da Fofolete e da Suzi, ou seja, do braço mastigado da Suzi.
A perna ainda é o soldado?
De volta ao acampamento, vê o médico desesperado com a chegada do primeiro morto...
Ele sai da enfermaria e não se importa em dizer:
“Está a dormir a sesta”.
No lado direito, os girassóis exibem, entre a fumaça, o seu bailarico diário.
O estourar de bombas a faz pensar nos foguetes de fim de ano. Como é lindo ver o céu exibir cascatas que oscilam entre o azul e o amarelo...
Feliz 2...
Quando percebe,
já se passaram horas...
o marido está no quarto a tomar chá, ouvir o rádio,
numa serenidade que anuncia o fim do dia...
amanhã, segunda-feira.
Depois da guerra,
providencia um banho quente,
para relaxar os ombros enrijecidos...
acalmar os dedos melancólicos.

4.8.05

orfeu atravessa o espelho


















o pássaro azul
a delatar as cores que não podem ser vistas:
assim se comporta o negativo?
desejo de ser laranja,
luminosidade...
o pássaro azul provoca as cores da sua radiografia.

31.7.05

O post de hoje "O dia em que conheci um escritor em NY"
está no "Dicção aleatória"...
atalho no canto direito.

27.7.05

jantar de hoje

estou exausta…
não consigo pensar uma linha animada. coloco o queixo na palma da mão e faço círculos.
pão, presunto e queijo. um copo de suco imaginário.

26.7.05

Fato é: o jornal "O globo" de hoje (26 de julho de 2005) desapareceu das bancas em Belo Horizonte, quiçá em toda a Minas Gerais, após a notícia de que o esquema Marcos Valério funciona desde 1998 com o atual senador Eduardo Azeredo do PSDB. Varri todas as bancas do meu bairro e não consegui encontrar um exemplar desse jornal. Na última, o rapaz me perguntou "o quê que tem nesse jornal que todo mundo está procurando?" Disse que foi o único que resolveu apontar o esquema Marcos Valério-PSDB em Minas e que Eduardo Azeredo quase chorou na tribuna. E ele respondeu: "Ah! Entendi... a mídia tá camuflando, né?!". Eu apenas sorri um sim.
Voltei para casa com a dúvida: estaria Aécio Neves (gov. de Minas) e sua fiel escudeira comprando loucamente todos os jornais do estado? Ou as pessoas estão indignadas com a mídia que só faz enxovalhar o PT?
Preciso urgentemente de um exemplar em bom estado de conservação, alguém poderia conseguir um para mim? Por favor, encaminhem este meu pedido, caso não tenha... quem sabe alguém em São Paulo, Basília, Rio, Acre etc. etc. etc.
PT saudações!

16.7.05

volto tonta da livraria...
opções diversas.
há quem ainda não escreveu uma linha,
e dividirá espaço nas prateleiras com aqueles tantos.
sem tempo para o que acabo de comprar.
arrumo a casa, lavo a roupa, faço compras.
neste fim de noite, restam-me os blogs?
estou devaneando, para me acostumar com o teclado macio do Mac.
option + g = ©

13.7.05

sonhei que voava: e eu dominava o desejo de voar.
você estava no meu sonho.
uma casa cheia de labirintos.

2.7.05

Café des poètes

Quando perguntam a Orfeu sobre o que ele acha que é ser poeta,
responde: "Escrever sem ser escritor".
Orfeu de Jean Cocteau é um poeta moderno.
Se apaixona pela morte que lhe manda mensagens indecifráveis através do rádio de um carro.
Nessa história, Eurídice parece ser apenas uma desculpa para que ele possa se encontrar com sua amada no vale das sombras.

O retorno para casa lhe parece doloroso
a ponto de não cumprir o combinado

assim, olhar para Eurídice, é se tornar um errante...
que espera pacientemente a sua morte.

"ma mort... ma mort". Sonha Orfeu.

"Um único copo d’água ilumina o mundo".

26.6.05

300 toques

deixei a mão correr levemente pelo seu rosto. senti sua respiração falhada, a boca seca. no canto esquerdo, abajur, despertador, o copo d’água. contávamos histórias um para o outro até que o cansaço nos vencesse. pés gelados. melhor vestir meias, conferir as janelas. acreditei que tudo não era sonho.

24.6.05

folhas caem no jardim de Mariá
o vento no basculante
arrepio
a torneira do lavatório
pinga
pinga
insistentemente
mariá brincando com objetos imaginários

dedos ávidos por uma história
o frio parece congelar idéias...
2:56
melhor enfiar a cabeça no cobertor
dormir por umas horas
amanhã ainda é sábado

20.6.05

no canto direito, links.
meu editor de blog trabalha, trabalha.
como um relógio.
para essa escritora incompetente.

18.6.05

o matraca anuncia o beiju
olho a prateleira lotada de tarefas acadêmicas
vontade de ficar de pé, debruçada na janela
espiar Marquinho
que grita lá fora
“uma lavadinha aí?!”


som de furadeira no vizinho ao lado
a persiana bate com o vento
cinco gatos quentando sol

bolinhas de pimenta do reino (preta)
espantam as traças

a Internet é gradualmente lenta

meus olhos caem
colchão de molas

16.6.05

recortes

quando você passa
passa também:
a moça na calçada, o homem lendo jornal,
gargalhadas na esquina, uma casa por fazer,
o relógio da igreja, pedaços de paisagem.

enquanto você mexe o cabelo:
meus olhos delirantes.

13.6.05

dizem que todo mundo tem duas personalidades.
como os geminianos são dois: quer dizer que temos quatro?

11.6.05

aula de geometria.

círculos (concêntricos?)
vi na antiga 3ª série
depois, mais aprofundadamente...
na 7ª.
quando queria,
era boa em matemática.
mesmo sem querer, tirava 10 em educação moral e cívica.
sempre troquei palavras em português,
mas era craque na interpretação.
não cumpri com o que registrei no caderno de perguntas de uma coleguinha da 6ª.
"o que você quer ser quando crescer?"
desenhista!
um colega leu, olhou pra minha cara e disse: "rárá! desenhar é muito difícil".
me lembro que ele copiava (à mão livre)...
super-heróis da marvel.
nunca consegui copiar um super-herói.
depois fui fazer curso. aquela coisa de oito cabeças...
pensar oito cabeças e fazer o corpo humano, sabe?
muito cerebral. talvez por isso, meus bonecos continuam rígidos.
mulheres estáticas.
já na faculdade, um amigo me disse que eu era preconceituosa, porque não desenhava gordos. mal sabia ele que já havia tentado, tentado etc. não só gordos, também velhos, crianças, bichos...
não me descobri Poty.

me formei em letras.

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... daqui a dois dias, 31 anos.

nasci num 13 de junho
mesmo dia de Fernando Pessoa
e meu pai disse isso.


7.6.05

plock, plock, plock... no meu cérebro.
manifestações de euforia indicam a hora de começar a escrever.
(contrastes)


zunzunzum...
ainda não me acostumei com o som polifônico do celular...
parece que ouço vozes vindas de todos os lados:
da rua, dos prédios vizinhos etc.
irrita-me sair zureta e perceber que não era o meu,
nem o de ninguém...
invenção


todos têm celular,
moram em prédios,
perambulam pela rua.
nem todos têm bolhas imaginárias no meu cérebro
.

5.6.05


incrível ver você de novo e perceber que o tempo não alterou seu jeito de andar.
o olhar discreto,
quase tímido.
para não dar na cara,
concentro,
finjo ver o trânsito,
atravesso a rua distraída
e...
um pouco sem graça,
meio desajeitada,
viro pra trás.
ainda dá tempo de pegar:
impressões do vermelho
estampadas no seu rosto.

2.6.05

um pouco mais de 300 toques

pensei encontrar nas anotações deixadas na gaveta da cômoda
uma história possível para carlos.
nada. n
as notas,
apenas emendas de frases rígidas, absurdas
sem o que contar, me rebelei contra a página branca
vomitei considerações, devaneei
(esse mundo inventado)
ao ler,
carlos nem se deu conta de que o texto
era todo
espaços vazios.

28.5.05

retirado de escritores incompetentes
tópico: narrativas de grau zero

4/29/2005 9:37 AM
eassis: são os documentários, mas...ando tendo uma impressão esquisita com essa quantidade de blogs, diários, histórias íntimas do homem comum, das coisas fantásticas do cotidiano etc... há uma mistura entre ficção e documentário?

4/30/2005 12:20 PM
yo: quero entender melhor o que você diz de narrativa de grau zero. e principalmente de que forma o documentário seria essa narrativa.quanto à pergunta, não sei se mistura... é verdade que a água passa pelo pó que está contido num filtro, daí: café. digamos que nós somos o filtro. o pó o conteúdo, documental ou não, a água seria aquilo que torna possível saborearmos o conteúdo. A escrita? bem sabemos que o filtro sozinho não dá conta. ele precisa de conteúdo. alguns de muito, outros pouco menos. os menos são estes que aproveitam o cotidiano, misturando pó de café torrado com café verde. os que precisam de muito conteúdo às vezes perdem o ponto, repare que o texto fica chato, meio Machado de Assis com pijamas de bolotas vermelhas. bom, penso que alguns descobriram a facilidade de escrever. escrever fácil é abandonar os clichês, catar um fase solta e transformá-la em alguma coisa que a gente lê, esquece, lê de novo etc. é simplesmente fazer café. mas.... também sabemos que tem gosto pra tudo.

4/30/2005 12:26 PM
yo: edu, acho que não respondi sua pergunta. é que responder não é o meu forte. o meu forte é mentir. rs. são 16:20h, me deu uma vontade de tomar café!

5/8/2005 12:05 PM
eassis: Haja!!! é como se o que é narrado não se encaminhasse para um fim. daí é um passo para falar da falta de finalidade do que é narrado (mas não do ato de narrar). o que está escrito não está amarrado a um núcleo (ou mais de um) importante. não há exemplos, personalidade, organismos, vida (não é que não haja, mas o modo de desenhar a vida é outro, menos escatológico, com menos sentido, ou com vários sentidos pulverizados).o átomo do elemento narrado é uma nuvem quântica de elétrons ou perspectivas.não é que o sentido não exista, mas talvez exista um sentido centrífugo ao invés de centrípeto. qualquer detalhe exposto seria, a partir disso, um detalhe uiversal.... cotidiano épico.

5/28/2005 11:10
yo: a física quântica considera a imensidão do universo, essa coisa que é infinitamente maior do que tudo que a gente pode imaginar dele, ao mesmo tempo em que considera os pequenos girantes (átomos etc.)... acho que o mesmo é para nós, incompetentes, tudo é e não é ao mesmo tempo, até chegarmos ao nada, ao neutro. O infinito é tão absurdo que ele é e não é. ver um átomo, pegar um átomo, termos a certeza dele, também. assim imaginamos tudo, universo e átomo... que coisa.

(aproveito tudo)

26.5.05

querido eassis,
peço licença para narrar esta história que não é minha.

(...)
um cheiro de sopa vinha da cozinha
invadia a sala.
um grito assustado. barulho infernal.
da janela
espiei.
a corda cedeu. a caixa ruiu do décimo. o capacete de segurança não fora suficiente.
massa cefálica pra todos os lados.
o cheiro de sopa intensificava.
5 horas da tarde. segunda-feira.
vi um peão da construção vizinha ser esmagado. como um bife no mármore.
cheiro de sopa até hoje me trava o esmago
.

21.5.05

ouço jazz.
tanan taran tanan taran tanan taran tanan taran tanan taran tanan taran tanan taran tanan taran tanan taran i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme i love supreme
parte 2
pannnnnnnnn pan pan taran... nanran......... nunnnnnnnn tun tun tun
bebo um chileno (tinto).
parte 3
o piano na minha cabeça.
*
agora, meus dedos no teclado
imitam Coltane.
irritante-mente embriagada.
bururururururuuruurururuuururuurbruru bururururururuuru bururururururuuruurururuuururuurbruru bururururururuuruurururuuururuurbrurururu bururururururuuruurururuuururuurbrurururuuururuurbruru bururururururuuruurururuuururuurbrurururuuururuurbruru bruru bruru bruru bururururururuuruurururuuururuurbruru bururururururuuruurururuuururuurbruru bururururururuuruurururu buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru
buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru uru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru
..........................................................
buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru uru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru
buru buru buru
buru buru buru buru
buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru
buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buru buruv buru buru buru buruburu buruburu buruburu buruburu buruburu buruburu buruburu
tun tun tun tun tun tun tun tun tun tun
tun
tun
tun
* my favorite things
o jazz nos ensina a frasear, assim diz Lobo Antunes.
o saxofone de John dissolve meu cérebro.
tannnnn........ tannaran, naran, naran,
pannnnnnnnn, panaran naran naran.
ion ion ioioooooooooonnnnnnnnn
(palmas)

20.5.05

saudades de estar aqui a escrever despreocupada
(gentileza)
outro dia li num livro que.

. assim o caminhante escolhe onde ir:

sem rumo,
errante


não há nada para dizer
lacunar é preciso...

11.5.05

sensação esquisita?
tempestade adentrando,
devagar.
é, pois bem.
concluo que
o mundo é uma tempestade infinita.

- sei nada!
sou apenas uma mulher

a brincar com todos aqueles lápis de cor
na mesa de inventar personagens.

1.5.05

o sol bate timidamente na janela
ventania

arrepio
congelamento de idéias

dedos estalados
a mão toca o teclado
* taquicardia

meu Deus, como a minha Internet é lenta!